quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Janeiro 22, 2006

antes e depois

Luís David


Nada mais que a intenção


A ideia é boa. Pode não ser nova, não ser inédita. Mas, é boa. Também não interessa, neste caso concreto, saber donde partir a iniciativa. Diga-se, apenas, que o projecto “Jovem no Distrito” é uma iniciativa louvável. Que os objectivos que se propõe atingir são meritórios. Daí, certamente, o facto de ter motivado o interesse e a adesão de duas centenas e meia de estudantes universitários. De estudantes universitários que pretendem passar cerca de trinta dias das sua férias escolares em diferentes distritos do norte do país. Afinal, uma forma de ensinar e de contribuir para reduzir carências de conhecimentos onde elas são mais gritantes. Mas, também, de aprender, de tomar contacto com o país real. De conhecer o outro e o diferente. De aprender a vencer dificuldades. Lá, onde existem e muitas serão. Para tanto, para saberem ao que iam, para lhes dar a conhecer as realidades e as dificuldades do distrito, foi organizado um seminário. Que encerrou com discurso, elogioso, do titular da pasta da Educação. Assim como que em jeito de benção pela atitude, pelo gesto. De terem sabido assumir responsabilidade como jovens. Mas, também, por quererem compartilhar a sua responsabilidade na melhoria das condições de vida dos cidadãos.



Naturalmente, a nossa realidade não é feita apenas de boas notícias. Também é feita de más notícias. E, a má notícia surgiu logo no dia imediato (Notícias, 19.01.2006, pag. 6). Tinha como título: Garantida ida de apenas 12 dos 80 jovens previstos, para os distritos. O motivo, como é possível de adivinhar, reside na falta de fundos para a compra de passagens. Ora, ao que parece, dos 250 voluntários, dos 250 jovens que se ofereceram, que acreditaram no projecto “Jovem no Distrito”, estava previsto fazer deslocar apenas 80. Sendo assim ou não, terão sido 250 os estudantes que participaram no seminário de capacitação. E, terão sido 250 os estudantes para quem o Ministro da Educação e Cultura falou. A quem elogiou. Não se compreende, custa a entender como é possível mobilizar e criar expectativas a tão elevado número de universitários sem estarem criadas as necessárias condições para a sua deslocação. Como não de compreende, custa a entender como é possível levar um Ministro a falar para jovens que acreditaram no projecto “Jovens no Distrito”. Um projecto que, afinal, não existe. Um projecto que nunca terá existido. Ou, acaso tenha existido, não era, como nos tempos correntes se diz, um projecto sustentável. O mais provável é que tenha existido projecto nenhum. Ou que possa ter sido, apenas, uma forma matreira e ardilosa para tentar dizer ao chefe que estamos a trabalhar. Não. Não é por este caminho que vamos chegar a parte alguma. A ideia é boa, mas ficou pela intenção. Nada mais que a intenção.