sábado, fevereiro 18, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Fevereiro 12, 2005

antes e depois

Luís David


Outra Vez?

Começa a ser frequente encontrar, em alguns jornais nacionais, títulos e artigos que, por vezes, chocam. Títulos que podem ter nada a ver com o conteúdo da notícia. Notícias e comentários que mais parecem insultos primários. Ofensivos e atentatórios à dignidade dos visados. Como seres humanos, como cidadãos. Digamos que a ética e a deontologia nem sempre são observadas. Que deixaram, ou tendem a deixar, de ser património do presente, que pertencem ao passado. Com a agravante de que, agora, até permitimos que qualquer estrangeiro nos insulte a partir da sua terra. Que um burocrata da ASDI em Estocolmo, como o próprio se classifica, nos brinde com uma página de generalidades e de banalidades, escrita no bom, e ao que parece ainda não desaparecido, estilo eurocentrista. Muito embora, temos de lhe reconhecer essa virtude, a determinado passo tenha a franqueza de afirmar: Acho incontestável que a comunidade doadora também teve um papel no desenvolvimento da corrupção em Moçambique. Infelizmente não há muita vontade da parte dos doadores em discutir essa cumplicidade. Ora, como autor também nos diz, um dos doadores de Moçambique é a Suécia, através da ASDI. Afinal, tudo claro como água.

O artigo em questão vem publicado na última edição do jornal “ Savana”. Ao longo de uma página, o autor defende a sua “dama” e a sua concepção de cooperação. Como ele gostaria que fosse feita a cooperação com Moçambique. E, como já vimos, aproveita o espaço para enviar alguns recados para o interior do seu país. Talvez para o seu Governo. Talvez por este não se ter apercebido que Está bem patente que isso (a origem dos fundos) é um aspecto que muito manda-chuvas moçambicanos que roubam dinheiro da ajuda não estão cientes. O dinheiro da ajuda não cai do céu. Vem das carteiras dos trabalhadores e funcionários bem intencionados (...). Ora, até aqui estamos todos de acordo. Como de acordo estamos quando afirma que Não há dúvida nenhuma que a corrupção é um problema muito sério em Moçambique. Mas, já não estamos de acordo quando afirma que Muitos suecos que trabalharam em Moçambique nos anos 80 desconfiam do presidente Guebuza. È que, muitos parece demasiado vago. Muitos, tanto pode significar 10, 50, 500 como mil ou 10 mil. Aqui, de todo em todo, seria necessário quantificar. Na mesma linha populista e demagógica, o autor ainda nos brinda com este brilhante naco de prosa: Alguns compatriotas fazem um comentário sobre Guebuza e a corrupção: “Ele é o mais corrupto de todos. Como é que ele pode lutar contra a corrupção?”. A conclusão seria brilhante, não fosse o vago alguns. Forma primária mas ultrapassada de tentar fazer agitação. Ou pior do que isso, ausência de ética e falta de imaginação para alinhar meia dúzia de linhas coerentes. Com dados e factos. Que, quase de certeza, até existem. Só assim faria sentido, só assim teria justificação o título Outra Vez?.