sábado, abril 15, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique, no Jornal Domingo de Abril 02, 2006

antes e depois

Luís David


assim não iremos longe

O desporto nacional é de fraca qualidade. Talvez, por hipótese, o desporto nacional atravessa o seu período de mais baixa qualidade desde que Moçambique é país. Quase todas as modalidades, quando não mesmo todas, atravessam um período de declínio. De aparamento. È, como se não existissem. Quer sejam modalidades colectivas, quer sejam individuais. Como excepção, única e honrosa, temos Lurdes Mutola. O que é pouco, demasiado pouco para a dimensão e em relação à população do país. Depois, exceptuando Lurdes Mutola, a caminhar para o apogeu da sua carreira, temos nada. Temos pouco. Muito pouco. Temos pouco a nível de África, temos nada a nível mundial. Esta nossa realidade é devida, deriva, entre outros possíveis factores, da ausência de uma política de fomento desportivo. Mas, também, de organização, de incentivos, de apoio. Digamos, com mágoa e tristeza, o desporto entre nós não é. Foi. Ora, organizar o CAN/2010 pode ser bom. Pode trazer prestígio ao país. Mas não vem, muito longe disso, resolver o problema do desporto nacional. Organizar o CAN/2010 pode transformar Moçambique em notícia a nível de África e do mundo. Mas, apenas durante alguns dias, durante poucas semanas. Podemos colher dividendos políticos durante uns poucos dias ou algumas semanas. Não mais do que isso. Depois, depois dessa irrealidade, desse sonho, desse desejo de ser o que não somos, haverá que se sobrepor a realidade. A nossa realidade.


Exemplo da nossa falta de organização, exemplo da nossa desorganização desportiva, está aí. Mais uma vez evidente. Exemplo, mais um. E, exemplo fresco. Como fresco é o peixe acabado de sair do mar. A provar que a improvisação dominou, continua a dominar, a organização. È assim, por falta de organização ou por força do improviso, que a Taça da Liga já não começa hoje. Como havia sido previsto começar. Dizem, publicamente e sem vergonha, os senhores que mandam no futebol nacional não terem conseguido os necessários e previstos patrocínios. Que haverão de os conseguir. E que quando os conseguirem, então sim, haverá, haverá de haver Taça. Ora haja, venha a haver ou não haja Taça, haja ou não haja patrocínio para a Taça, fica mais uma mancha no futebol nacional. Dizer que a organização do CAN/2010 não poderá ser afectada por esta incompetência interna, por esta desorganização, provavelmente organizada, é pura ingenuidade. No desporto, como na política, as coisas não acontecem por acaso. São programadas. Mas, convenhamos, assim não iremos longe.