sábado, abril 15, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique, no Jornal Domingo de Abril 9, 2006

antes e depois

Luís David


abrimos mais uma porta à dependência externa

Somos, sem a menor dúvida, um país cuja população está exposta às mais variadas e diferentes doenças. Mas, para além de todas as muitas doenças que todos conhecemos, das muitas doenças contra as quais nos procuramos prevenir, há outras. Outras doenças, igualmente mortais, que constituem ameaça de morte. Uma delas é a raiva, que “ameaça saúde pública no país”, segundo o “Notícias” ( edição de 5 do corrente, primeira página). O mesmo matutino informa que “No ano passado cerca de 40 pessoas morreram vítimas da doença”. E, para que não restem dúvidas sobre os perigos da dita doença, para que os já cautelosos se acautelem ainda mais, começa por escrever que “o aparecimento de animais vadios, como cães, macacos, gatos e ratos em diferentes pontos do país coloca em perigo a vida de muitos cidadãos”. Ao que parece, estaremos perante um perigo nacional. Um perigo para a saúde pública. Mais um. Outro, que querem fazer acreditar também perigo para a saúde pública, foi inventado muito recentemente e foi localizado na Praia do Bilene. Há quem queira, teimosamente, afirmar e repetir que as águas da lagoa estão contaminadas por óleo. Que constituem perigo para a saúde pública. Só que não conseguindo provar a sua tese, passaram à segunda fase da mentira. Passaram a dizer que as águas estão contaminadas pelos esgotos. Ora, e parece muito difícil provar o contrário, o fenómeno que provocou a morte de peixes e o aparecimento de algas à superfície na Lagoa do Bilene terá sido o mesmo que, na mesma ocasião, cobriu as águas da Baía de Maputo com algas. Para os mais teimosos e aos ignorantes, fica o desafio de provarem que os fortes ventos sentidos no Bilene, fez sexta-feira última um mês, não provocaram a eliminação do oxigénio nas águas da lagoa. Causa única, até prova em contrário, da morte de peixes e de algas. Depois terão igualmente de provar, como trabalho suplementar de investigação, qual o fenómeno que motivou que ramos de árvores, plantas e, sobretudo milho estavam, sábado, secos. Deixemos de ser alarmistas.



Uma outra moda nos tempos que correm, uma outra moda alarmistas, é a da gripe das aves. Há quem diga que sim, que constitui um perigo, como há quem diga que não, que constitui perigo nenhum. Ao que parece, em resumo, dizer que sim, dizer que a gripe das aves é coisa perigosa, alimenta vários tipos de negócio. Gastar dinheiro na elaboração de planos de prevenção da gripe das aves é, em definitivo, um exercício inútil. Sejamos mais claros, um exercício ridículo. E é, em definitivo e sem hipótese de desmentido, um exercício que procura desviar as atenções dos grandes problemas nacionais, dos grandes objectivos nacionais. A gripe das aves não é um problema, muito menos um perigo nacional. E, parece ser difícil tentar provar o contrário. Talvez acrescentar, fazer recordar aos que tentam fazer por esquecer, que o vírus da gripe das aves foi descoberto há nove anos no Vietname. Desde então, morreram apenas nove pessoas em todo o mundo. E, mais, não está provado que a gripe das aves se transmita aos humanos. O que há a certeza, isso sim, é que por detrás desta alarme, talvez deste falso alarme, se escondem fabulosos negócios de venda de medicamentos. Houve, já, compra e venda de marcas de medicamentos e de laboratórios. Criaram-se monopólios, por detrás dos quais estão insuspeitas figuras da política mundial. Questionemos, por fim, que interesse servem ou procuram servir esta posição alarmista nacional, esta postura alarmista indígena. Não é, certamente, por ingenuidade, que estamos a abrir mais uma porta para a dependência externa. Que abrimos mais uma porta à dependência externa.