domingo, novembro 12, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique, no Jornal Domingo de Novembro 12, 2006

antes e depois

Luís David


os limites do real e da verdade

De seu nome José Rodrigues dos Santos, nasceu na cidade da Beira, em Moçambique, no ano de 1964, onde viveu os primeiros dez anos da sua vida. Iniciou a sua carreira jornalística na Rádio Macau. Trabalhou na BBC, em Londres, entre 1987 e 1990, donde seguiu para a RTP onde começou a apresentar o 24 Horas. Em 1991 passou para a apresentação do Telejornal e tornou-se colaborador permanente da CNN. Doutorado em Ciências da Comunicação e professor universitário, foi por duas vezes director de informação da RTP. Galardoado com vários prémios profissionais e académico, é autor de diversos livros, o mais recente dos quais “A Verdade da Guerra” (258 páginas), que conheceu a sua sexta edição em 2005. Sobre este livro, escreveu Manuel Maria Carrilho, que foi Ministro da Cultura de Portugal, em o “Diário de Notícias”: Rodrigues dos Santos assumiu uma posição rara mas certeira – a da rejeição da noção de objectividade no jornalismo, abrindo assim caminho a duas ideias importantes: a da cumplicidade dos jornalistas com a encenação dos factos [...] e a do condicionamento de tudo o que um jornalista diz pela sua particular perspectiva. Num tempo e num espaço em que tanto se fala sobre independência e manipulação da informação, sobre pressões e objectividade, faz bem ler um livro como a “Verdade da Guerra”.


Numa longa mas não fastidiosa abordagem, digamos, mesmo, uma história do jornalismo de guerra, que vai da Primeira Guerra Mundial até a “As guerras do século XXI”, Rodrigues dos Santos escreve, logo no primeiro capítulo, (pag. 37): [...] O conceito de que tudo no universo é relativo veio dar credibilidade ao relativismo, que defende que a verdade varia consoante o seu enunciador, enquanto o princípio da incerteza reforçou o subjectivismo, que preconiza o primado do sujeito na concepção do objecto. Se as coisas não são o que parecem, como demonstra a teoria da relatividade, e se o princípio de causa-efeito não é fenomenologicamente universal, como revela e mecânica quântica, para quê então insistir nessas ilusões?. E, ainda sobre o acesso ao real, escreve na página seguinte: [...] É que, ao abrir espaço para o acaso, a imprevisibilidade e o aleatório fenomenológico no estudo do comportamento da matéria, o princípio da incerteza permitiu perceber que o observador altera sempre o objecto observado, o que significa, consequentemente, que não existem observações objectivas da realidade. Mais adiante, (pag. 45), o autor cita David Krech e Richard Crutchfield que em 1948 estabeleceram o conceito de que a percepção é funcionalmente selectiva, o que significa que existe um elevado grau de distorção na forma como apreendemos as manifestações do real. “Ninguém capta tudo o que existe ‘lá fora’. Já no capítulo seguinte, “A objectividade do discurso jornalístico”, escreve (pag. 56): Muitos jornalistas consideram que a objectividade está para além das ideologias, quando na verdade, a crença na objectividade é, ela própria, de raiz ideológica. [...] A ingenuidade parte do facto de se acreditar que a objectividade é possível, quando, na verdade, o problema é que ela é inatingível, a começar pela subjectividade inerente ao discurso e aos seus valores intrínsecos. Em resumo, e por o espaço também ser pouco, pode concluir-se que estamos perante uma obra de interesse para todos os estudantes da área da comunicação social. Embora nem só. E que, numa perspectiva mais ampla, mais alargada, bem pode servir de base para um debate sobre os limites do real e da verdade.