domingo, abril 15, 2007

Os abutres já estão a ser atraídos pelo cheiro do sangue fresco

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Abril 15, 2007

antes e depois

Luís David

Foram tornadas públicas, quinta-feira que passou, as conclusões da comissão de inquérito, criada pelo Presidente da República para investigar as causas das últimas explosões no Paiol de Malhazine. Transcrevemos do jornal “Notícias”, do dia 13 passado: Uma combinação de vários factores, entre os quais o período de vida útil dos artefactos, as condições de manuseamento, armazenamento e conservação, os efeitos climatéricos (exposição ao sol, calor chuva e frio) e erro humano terão sido as eventuais causas das explosões ocorridas no passado dia 22 de Março no paiol de Malhazine. No mesmo texto, que cita um comunicado da Presidência da República, afirma-se que as conclusões são partilhadas na essência, pelo Chefe do Estado, Armando Emílio Guebuza, que depois de analisar preliminarmente o relatório, concordou em considerar as recomendações nas medidas organizativas em curso. Ora, se recordarmos que, anteriormente, já o Governo havia aprovado a criação de um gabinete para apoiar as vítimas, significa isto que o Estado assumiu, na sua plenitude, os estragos e as consequências dos danos causados pelas explosões. Nem seria de esperar diferente sabendo-se que, também aqui, o Estado se preocupa em ser pessoa de bem. Possa, embora, haver quem procure dar imagem contrária. Muito provavelmente, para consumo externo. Muito provavelmente para, assim procedendo, conseguir lugar em aéropago internacional.


Descartada, posta de lado, que parece estar, qualquer hipótese de as explosões do Paiol terem resultado de mão criminosas ficam, mesmo assim, algumas dúvidas a pedir esclarecimento. Diz a respeitável comissão de inquérito, que realizou um trabalho a todos os título louvável, que as armas explodidas não tinham mercúrio. Ora, se não tinham mercúrio, ficamos sem saber o que tinham. Por hipótese, poderiam ter urânio. Mas, e ainda no campo das hipóteses especulativas, se não tinham mercúrio nem urânio, falta dizer, falta tornar público que tipos de armas explodiram, quantos engenhos explodiram e quantos ainda estão em condições de explodir. Nisto, na divulgação destes dados, não está em questão nenhum segredo de Estado. Muito menos, a segurança do Estado. Está, isso sim, a segurança de centenas ou de milhares de cidadão que vivem nas proximidades das zonas de desmazelado armazenamento de artefactos de guerra. Excluindo, pois, a possibilidade de sabotagem nas explosões e, por exclusão de partes, quaisquer benefícios para a máfia russa, parece necessário algum sinal tranquilizante. Tranquilizador. E, aqui, a questão está em saber qual o destino que irá ser dado a todos aqueles terrenos. Aos terrenos do chamado Paiol de Malhazine. Aos terrenos que, hoje, bem podem estar já a ser objecto de negociatas e de tráfico de influências para a construção de mais um condomínio. Talvez o senhor Presidente da República deva declarar esses terrenos como Reserva do Estado. Ou, terrenos de domínio ou de utilidade pública. Para que, nesses terrenos, ou nessa terra, possa ser construído algo de memorável. Ou, por hipótese, coisa nenhuma. Mas, sobretudo para que essa terra ensanguentada, sangrenta e sangrada de Malhazine seja, por hipótese, terra, terreno de especuladores. Os abutres já estão a ser atraídos pelo cheiro do sangue fresco