domingo, janeiro 16, 2011

Podemos e devemos combater os piratas da terra

A partir da cidade de Pemba, o matutino “Notícias” noticiou, na sua edição do passado dia 12, como principal destaque, ter sido “Abortada saída ilegal de madeira”. Mais dizia, que um navio da grande tonelagem se encontrava retido no Porto de Pemba, por se suspeitar que a carga transportada é ilegal, “nomeadamente 161 contentores de 20 pés de madeira em toro extraída na província de Cabo Delgado e que tinha como destino países asiáticos”. Dizia, ainda, haver “uma ordem de descarga dos contentores, que entretanto não iniciou porque os CFM, proprietários do porto e única entidade que pode efectuar a descarga, pretende saber quem pagará a operação”. Já no dia seguinte, o mesmo matutino acrescentava, igualmente em notícia de primeira página, ter sido “Descoberto marfim na carga verificada”. Dizia a noticia que, numa operação paralela, “Foram encontrados 29 contentores, alguns dos quais com marfim, no recinto do Porto de Pemba, carga que é pertença da Miti, Lta (...)”. Ainda no mesmo dia, já na página 21, página dedicada às cartas dos leitores, o mesmo ‘’Notícias” dá espaço à preocupação de um seu correspondente sobre a produção de artesanato em marfim. Escreve este leitor que “Há cerca de três ou quatro meses li a notícia de que tinham sido abatidos por caçadores furtivos cerca de 13 elefantes na província do Niassa e na semana passada li novamente que sido apreendidas no aeroporto de Banguecoque, na Tailândia, cerca de 400 quilos de marfim provenientes de Moçambique”. Afirma o autor da missiva que “Para que autoridades tailandesas possam afirmar que o marfim vem de Moçambique é porque algum documento, provavelmente uma carta de porte, acompanhava essa mercadoria”. Ora, para bom entendedor, mais não é necessário escrever.


A leitura, sem necessidade de ser muito atenta, destas notícias não permite evitar algumas perguntas. A primeira, é de como e em que circunstâncias foram abatidas tantas árvores. Muito provavelmente, quase de certeza, espécies preciosas. A segunda, é como essas árvores foram embaladas e transportadas até ao Porto de Pemba. A terceira, é como 161 contentores de elevada tonelagem foram embarcados, carregados. Num navio que os haveria de levar, pelas largas estradas dos mares, até países asiáticos. A quarta, a quarta pergunta, é se nenhuma autoridade moçambicana viu, em tempo útil, o que se estava a passar. Desde os fiscais ou agentes das Florestas, passando pelos agentes policiais. Para terminar nos agentes alfandegários, nos transitários e nas autoridades portuárias. Pergunta final e inevitável é se todos estes agentes do Estado foram subornados. Para saber se foram subornados para não cumprirem a sua missão ou se, em alternativa, emitiram documentos falsos. Seja como seja, estamos perante um caso de Polícia. Estamos perante um caso que merece e justifica profunda investigação. Como se dizia no antigamente, “a nível da Nação”. Que pode, até, exigir o recurso às chamadas “toupeiras”. Para se conhecerem, para virem a público, nomes e rostos destes agentes do crime organizado. Que, em Cabo Delgado, parece não ser caso virgem. Se assim não for, se assim não se fizer, corremos sérios riscos. O primeiro e principal dos quais é o de, perante a nossa realidade interna, os piratas do mar não passarem de meros “aprendizes de feiticeiros”. Quando, obviamente, comparados com os piratas que destroem e delapidam a nossa flora e a nossa fauna bravia. Do que já parece restar poucas, ou nenhumas dúvidas, é que há piratas do mar e piratas da terra. E, se não temos meios para combater aqueles, parece possível combater estes últimos. Podemos e devemos combater os piratas da terra.