domingo, janeiro 02, 2011

A mentira tem pernas curtas

Há coisas que acontecem e que não deviam acontecer. Há coisas que acontecem e nos deixam pasmados. Que nos deixam como que estúpidos. De boca aberta. Quando não de boca fechada. Para evitar comentários. Talvez inconvenientes. Outrossim, por o insólito, de tão insólito que é, não permitir qualquer comentário. E exigir, isso sim, esclarecimento. Cabal e público. Exigir uma explicação fundamentada. Séria e credível. Infelizmente, nem sempre assim acontece. Raramente assim acontece. De tal jeito que ao erro se vai sucedendo o erro. Ao abuso se vai sucedendo o abuso. Ao desmando se acrescenta novo desmando. Que já são mais do que muitos. Atenhamos num exemplo recente. Aqui se escreveu. Não passa muito tempo sobre esses contentores monstros. Colocados em vários passeios da cidade de Maputo. Um deles, que havia sido instalado na avenida 24 de Julho, mudou de poiso. “Voou” até defronte das barracas do Museu. Aí permanece, quedo e mudo. Hermeticamente fechado. Cadeado. Das galinhas, que era objectivo serem vendidas no voador contentor, nada. Nem as penas são visíveis. As galinhas nacionais, as modestas mas saborosas galinhas nacionais, parece terem decidido entrar em greve. E não se deixarem sair dos aviários. Em sinal de protesto. Contra tudo e contra todos. Mas e sobretudo contra os gastos em champanhe. Contra o desperdício que foi o champanhe utilizado na inauguração desses mastodontes. Mas, enfim, ainda há quem pensa que ficará para a história por coisas pequenas. Como o é, sem dúvida, inaugurar um contentor elevando uma taça de champanhe.


Champanhe é, entre nós, bebida corriqueira. Normal. E, como todos sabemos, cerimónia que queira ser apelidada de cerimónia, só mesmo assinalada com champanhe. Selada com um brinde com champanhe. É pouco claro donde vem, donde foi importado este hábito. Ao certo, não se trata de tradição local. Nacional. Deixemos que um dia, os investigadores esclareçam a dúvida. E nos digam mais sobre a matéria. A provar este hábito. A provar este gosto mórbido pelo champanhe, aí tem exemplo mais recente. Fresquinho. Como, segundo os apreciadores, deve ser bebido o champanhe. É que o que não faltou nem falhou foi o champanhe para a cerimónia da inauguração do Estádio Nacional. As imagens emitidas pela TVM (Notícias das 9.00 horas do passado dia 28), são elucidativas. O que falhou, isso sim, foi a cerimónia da inauguração. Simplesmente, não se realizou. Logo, o primeiro a abandonar o local, o primeiro a regressar aos balneários, foi o champanhe. Certamente para desgosto e desprestígio de muitos dos presentes. Entre os quais se encontravam dois ministros e um vice – ministro da República. Ora, sobre os reais motivos do adiamento da inauguração foi dito pouco. Quase nada. Afirmar-se que “proximamente poderemos realizar a cerimónia” ou que esta não foi realizada por “motivos não previstos”, é o mesmo que dizer nada. Sentimos que devemos saber mais. Que temos o direito de saber mais. De saber os motivos, reais, que impediram a inauguração do Estádio Nacional. Os motivos que obrigaram três membros do governo moçambicano a terem de abandonar o local sem participarem na inauguração. O que foi dito, publicamente, até agora, não passa de um escamoteamento da verdade. Nesta, como em outras áreas de governação e de gestão da coisa pública, aconselha-se alguma moderação. Mais cuidado. Até porque, como todos sabemos, a mentira tem pernas curtas.