domingo, março 13, 2011

Evitemos que alguma vez possa ser tarde de mais

Aconteceu há alguns anos. Muitos. Na África do Sul. Aconteceu um tipo de crime ou de burla, novo. Até então por processos desconhecidos. E que consistia na manipulação de contas bancárias por funcionários que a elas podiam ter acesso. E, tinham. Pessoas sérias e bem posicionadas na vida, como eram, não roubavam. Eram bem mais espertas e bem mais inteligentes do que os conhecidos ladrões que praticam os seus crimes com recurso a armas de fogo. Que, por norma, habitualmente, entram de rompante em uma escolhida dependência bancária. Armas em punho. Encapuçados. Mandam deitar os clientes. E que, sob a ameaça das mesmas, das ditas cujas, exigem que lhes seja entregue o dinheiro. Existente nas caixas ou na casa forte. Muitas das vezes depois do assassinato de seguranças. Nada disto. O que aconteceu, o que referimos ter acontecido foi bem mais sofisticado. Aconteceu com recurso à informática. Prova de que sempre que haja possibilidade e liberdade para tal, se manifesta a iniciativa criadora. No caso em apreço, consistiu num processo aparentemente simples. Os funcionários bancários faziam transferir para as suas contas pessoais elevadas quantias de dinheiro. Depositadas e pertença de diferentes clientes. Esses valores assim obtidos, eram depositados a prazo. Por diferentes períodos de tempo. Os juros iam cair nas contas dos bancários. O capital que lhes dava origem regressava, então, aos legítimos donos. Passado um certo tempo. Tratou-se de um crime aparentemente perfeito. Só que os crimes perfeitos não existem. E, mais cedo ou mais tarde são descobertos. E os seus autores detidos. Como aconteceu.


Bom imitador que somos, bons “aprendizes de feiticeiro” que queremos ser, também por cá vai sendo tentado algo de semelhante. Igualmente com recurso à informática. À manipulação de dados informatizados. É assim que se fazem alterações nas datas de pagamento de empréstimos bancários. Que as datas desses pagamentos vão sendo antecipadas mês após mês. Na mais primária e boçal violação do contracto assinado entre o cliente e o banco. É assim que funcionários menos honestos se permitem retirar dinheiro das constas dos clientes. Para suprir despesas pessoais de momento. Principalmente aos fins-de-semana. Mas, não só neste período. Pior ainda, é que este processo de fazer passar dinheiros alheios para contas pessoais pode estar a alastrar. Pode estar a contaminar diversas empresas. Públicas ou privadas. Até sociedades anónimas. Comprovadamente com uma inestimável e comprada folha de serviços prestados ao país. Sociedades com uma gestão acima de qualquer suspeita. Por idónea que sempre foi. No cumprimento dos seus deveres e das suas obrigações. Para com os seus servidores, para com os seus trabalhadores, para com os seus reformados, para com os seus avençados, para com os seus colaboradores. Ao longo de muitas décadas de existência. Mas que, hoje, pode estar a ser manchada. Por um qualquer pateta que decidiu, por iniciativa própria e pessoal, cativar esses dinheiros de tantos eus, muito provavelmente, em proveito pessoal. De retardar, em mais de dois meses, pagamentos de quem sempre cumpriu prazos na entrega de textos. Ainda se está a tempo de parar. De parar e de olhar para dentro. De nós próprios e da nossa organização. Mais tarde, pode ser tarde. Pode ser tarde de mais. Evitemos que alguma vez possa ser tarde de mais.