domingo, maio 15, 2011

As nossas crianças merecem melhor

Há assuntos que nunca terei abordado neste espaço. Pelo menos, tanto quanto a memória mo permita recordar, com a clareza, o conhecimento de causa e a objectividade com que outros o fazem. Ou fizeram. Em espaços e em ocasiões diferentes. E, isso, essa abordagem em espaços outros e vários é motivo de satisfação e de identificação com a causa justa. É motivo e razão, como costuma dizer-se em gíria, para “assinar por baixo”. No caso concreto, no caso de textos escritos por outros, refiro-me a uma crónica assinada por Mubêdjo Wilson (“Notícias de 9 do corrente, página 29). Sob o título “Esse negócio do balão!”, o autor dá assim início à sua prosa: “Tornou-se num dos negócios mais estranhos que já vimos. Aos fins-de-semana, equipas da Polícia e do INAV escolhem determinados pontos da cidade para efectuar o controlo de álcool aos automobilistas.”. Acrescento eu, por minha conta e risco, com conhecimento de causa, que tal tipo de comportamento também pode ser verificado em diferentes pontos da EN1. Acrescenta o cronista que “Quando falamos em negócio, referimo-nos ao facto de que tem sido processadas as operações, onde mais parece que os agentes se preocupam em ‘negociar’ do que propriamente levar as coisas a sério.”. Antes de fazer várias outras considerações, escreve: “Ora bem, se estamos a falar de uma operação para a qual o Estado gasta dinheiro então devemos estar perante uma situação em que só se gasta e não consegue ter o retorno resultante das penalizações. Parece-nos que só quem tem azar mesmo é que cai na ‘malha’ ...”. Ponto fulcral e que parece ser importante reter, está quase no final do texto: “Pela forma como as coisas têm ocorrido, estamos em crer que se está a caminhar para a banalização de uma operação de uma operação que poderia ser mais séria do que está a parecer. Parece um negócio bom, diriam alguns.”. Não somente alguns. Nós todos. Estamos, sem margem para dúvidas, perante uma acção que só não vê quem não quer ver. Por outras palavras, o pior cego não é aquele que não vê. É aquele que não quer ver.


Neste campo de um pretenso combate ao consumo excessivo de álcool, parece haver, e há, algumas contradições. Algumas incongruências. Mas e sobretudo muita falácia. Talvez, até, só falácia. Nós, que estamos do lado de cá, estaremos, muito provavelmente, em melhores condições para ver muitas destas anomalias. E para questionar sobre como é possível que, a nível de um mesmo Governo, estas coisas acontecem. Como é possível que enquanto uns se afirmam acérrimos combatentes do alcoolismo, outros permitem que seja feita publicidade a bebidas alcoólicas. Sobretudo dirigida aos jovens. Algo está a escapar à observação do cidadão comum. Vejamos. A partir de determinado tempo, começou a ser frequente, normal, assídua e diária a publicidade a bebidas alcoólicas. Bebidas das chamadas secas ou cerveja. Começámos a ser encharcados e agredidos por anúncios fixos, seja painéis. Seja anúncios na Imprensa escritas ou nas televisões. Pagos, naturalmente, pagos. Pagos, como costuma dizer-se, a peso de ouro. O que, até melhor entender, até prova em contrário, foi e continua proibido por lei. Pior, mais grave, mais gravoso, é que em programas apresentados por crianças e destinados a crianças seja promovida determinada marca de cerveja. De forma camuflada. Quando, só por si, esta forma de publicidade não é permitida. Essa forma de pretenso humor, essas piadas chulas, deslocalizadas no tempo e no espaço, devem ser banidas. Principalmente da televisão pública. E, quando se faz questão de informar que tal programa não tem patrocínio desde 2009, é preciso questionar por qual motivo, então exibe publicidade encoberta. Quem recebe e para onde vai o valor pago por essa publicidade. Que viola a legislação e atenta contra os direitos das crianças. Hoje, também neste campo, estamos perante um grande défice democrático. É que uma coisa consiste em fazer programas para as crianças. Em seu nome. Outra coisa, completamente diferente, é os programas das crianças serem concebidos, idealizados e feitos por crianças. Na selva em que vivemos, é possível concluir que as nossas crianças merecem melhor.