domingo, maio 22, 2011

Os mistérios de um conflito irracional

Um novo termo, uma nova expressão, parece ter entrado, definitivamente, no léxico moçambicano. E, à custa de tantas vezes ser repetido, por tudo quanto é jornal, rádio e televisão, até já terá ganho o direito de cidadania. Trata-se da expressão a que alguns convencionaram chamar de “conflito homem - animal”. Em que consiste, exactamente, este conflito, ainda ninguém terá explicado. Claramente. Quando falamos de conflito armado, todos sabemos sobre o que estamos a falar. Quando falamos sobre conflito de terras, todos sabemos sobre do que estamos a falar. Já não é, já não surge tão claro quando nos falam do “conflito homem – animal”. Para nós, aqui, trata-se de um neologismo. Talvez, de uma expressão ou de um conceito imposto de fora. Logo, que não resulta de adaptação, por necessidade de comunicação, de termo estrangeiro. Mas que pode, muito bem, resultar da chamada globalização. E, também, nesta área sabemos como é apetecível aos globalizadores imporem normas e formas do seu viver. Formas e normas do seu escreverem. Não é segredo de Estado que há por aí funcionários der certos organismos das Nações Unidas que “aconselham” editores de órgãos de informação nacionais sobre os termos que devem utilizar em determinadas situações. Como é o caso de cheias, inundações, ciclones, vendavais e por aí em diante, E que, alguns dos nossos compatriotas aceitam, “peregrinamente”, estes “conselhos”. Convictos de estarem a prestar um bem serviço, de estarem a ser patriotas. Mas, pode não ser bem assim. Pode tal comportamento não passar de uma atitude de servilismo. De moleque saloio.


No seu noticiário das 9 horas da passada quinta-feira, a TVM dava conta que, durante o ano de 2010, 41 pessoas haviam morrido na província de Sofala em resultado do conflito “homem fauna bravia”. Neste caso, e para o jornalista, fauna bravia são crocodilos, elefantes, hipopótamos. Faunos que existem, em maior ou menor número, um pouco por todo o país. Se assim, se aceitarmos que assim pode ser, algumas centenas de moçambicanos terão sido vítimas mortais de ataques de animais. Em todo o país e no referido espaço de tempo. O que ninguém explica, o que nunca alguém terá explicado, claramente, é o motivo pelo qual este tipo de animais ataca tantas vezes os homens. E, se esta é uma situação nova ou antiga e que antes não era reportada como o é hoje. Sendo claro que todos conhecemos as causas e as origens do conflito armado e dos muitos conflitos pela posse da terra, algo parece estar a impedir a divulgação das verdadeiras causas do chamado, eufemisticamente, “conflito homem – animal”. Se tal não acontece, algum motivo haverá. Técnicos e cientistas conhecedores da matéria, temos. Em número, provavelmente, mais do que suficientes. Conhecedores do terreno e habilitados para a investigação. Não menos estranho, não menos irracional, parece ser o facto de a vida dos homens continuar à mercê da vontade e do instinto dos animais. E, não o inverso. Que interesses se interpõem entre o direito à vida dos homens e o direito à vida das animais. Dito o mesmo por outras palavras. O que impede a criação de grupos de caçadores locais, devidamente organizados, armados e controlados, com a missão de abater os animais. Antes que estes continuem a fazer crescer o número das suas vítimas humanas. Tudo isto, todas estas questões constituem, até hoje, um mistério. Melhor, os mistérios de um conflito irracional.