domingo, abril 22, 2012

Dominados e controlados por um bando de candongueiros.

Já se tornou hábito. Já se está a transformar em tradição. Parece vir a querer ser mito. Isto de autoridades ligadas ao comércio, a nível central e municipal, nos virem tentar tranquilizar sobre manutenção de preços e quantidades de produtos alimentares disponíveis. Isto todos os anos. Principalmente, durante as quadras festivas do fim do ano. Numa aparente e nunca desmentida procura de visibilidade. De protagonismo. Ou seja, de tentar mostrar ao chefe que estão a trabalhar. Que estão preocupados com a população. Com povo. E de tão convictos que estão sobre a utilidade da sua actuação, nunca terão verificado que o seu discurso político está desfasado da realidade. Que os seus desejos são contrariados sistematicamente pela prática. E que são os candongueiros, os especuladores, que dominam o comércio, o mercado, as trocas comerciais. E não as autoridades legalmente constituídas. Agora, já depois de há muito ter terminado a quadra festiva, surgiu mais um exemplo da falta de capacidade governamental em matéria de comércio. Estamos a referir-nos à chamada “crise do tomate. Que resultou de um facto bem simples e que bem poderia ter sido evitado se o Governo tivesse actuado como e quando lhe competia. Face à reduzida produção nacional. Utilizando os meios, as estruturas e as empresas que controla. Para abastecer correctamente o mercado Com a autoridade que lhe assiste. Não o fez. O que abriu espaço para que, perante a fraca produção interna de tomate, uns tantos importadores do produto se tivessem organizado para impedir a entrada do produto. Nas quantidades necessárias para ao normal abastecimento do mercado. Produzido na vizinha África do Sul. E, através desta acção, deste expediente, feito fazer subir, artificialmente, o preço pago pelo consumidor. E, nós, consumidores, tivemos de pagar. Ficámos com os bolsos mais vazios se quisemos comer tomate. Alguém, alguns, deve estar com os bolsos a abarrotar de dinheiro. Que não resulta de trabalho. Resulta da especulação. Da chantagem e do negócio ilícito. O que é punido por lei. Quando a lei funciona. Quando a lei é aplicada. O que pode não ser o caso. Há quem parece acreditar que a chamada “crise do tomate” está ultrapassada. Na sua edição do passado dia 17, titula o jornal “Notícias” (página 3), que “Abastecimento de tomate à beira da normalização”. E escreve que “O abastecimento do Mercado do Zimpeto em tomate que escasseia desde a primeira semana de Março está à beira da normalização, sanadas as divergências que opunham importadores baseados naquela praça e graças à intervenção das autoridades para pôr ponto final ao boicote”. O enigma, aqui, está em saber quais foram as autoridades que intervieram “para pôr final ao boicote”. Muito menos vimos essas autoridades personificadas nas pessoas de um ministro ou um director. Em declarações públicas. Em jornal, rádio ou televisão. Mesmo tendo de pagar para ter a possibilidade de ser visto. Esta chamada “crise do tomate” tem contornos que ultrapassam o espaço e o âmbito de um mero e despretensioso comentário. Pode, muito bem, inserir-se no plano da estabilidade social nacional. Ou da desestabilização. Esta chamada “crise do tomate”, faz-me recuar no tempo. E recordar aquilo que ficou conhecido como a “guerra das panelas”. Acontecida no Chile. Há já muitas décadas. Se a comparação faz ou não sentido, cada um, cada leitor que pense por si. É seu dever pensar. Agora, sobre o que parece não ser necessário pensar muito, quanto esta questão do tomate e do não tomate, apresenta-se como bem mais simples. E primário. Ë que, sem receio de desmentido, estamos a ser dominados e controlados por um bando de candongueiros.