domingo, abril 01, 2012

Chuva em cima de pato

A polémica sobre o polémico Acordo Ortográfico (AO), avança. Cresce. Internacionaliza-se. Como é moderno dizer. Isto, por ter deixado de ser questão interna de Portugal. Questão entre portugueses. E contar, agora, com a participação do Brasil nos debates. Para dizer de sua justiça. Para tentar reafirmar e impor como devemos passar a escrever. A falar não, por isso ser impossível. No fundo da questão, estaremos apenas perante um aspecto mesquinho de vaidade humana. De uma tentativa para afastar e escorraçar fantasmas. De uma manifesta e comprovada forma de tentar escamotear complexos de inferioridade. Através de atitudes e manifestações de pretensa superioridade. Para não ter de utilizar expressão que a muitos parece incomodar. Digamos coisa simples e historicamente incontestada. Incontestável. A independência de todas as colónias de países europeus nas Américas, foram declaradas pelas burguesias colonizadoras. Pelos filhos de colonos. O Brasil não foi excepção. Excepção, única, foi o Haiti. Já em África, no Continente Africano, o processo decorreu de forma diferente. Todos os países se tornaram independentes com a entrega negociada do poder às elites locais. Nacionais. Ou de processos de luta armada. Por demais prolongados e por demais violentos e sangrentos para as partes envolvidas. É aqui que se pode enquadrar o caso de Moçambique. Voltemos ao absurdo AO. Há dias, foi divulgado na internet um texto que o jornal “Notícias” publica na sua edição de 27 do corrente (página 31), com o título: “Resistência de Portugal preocupa brasileiros”. Elucida o matutino de Maputo que “Um artigo publicado do sítio O Globo relembra o caso do intelectual português Vasco Graça Moura e defende que Portugal resiste ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”. Depois de vários considerandos, que em nada importa aqui referir, o mencionado texto acrescenta que “Um artigo publicado no sítio O Globo (...) revela que aumentam os receios que as novas regras sejam implementadas apenas no Brasil”. O que a vir a acontecer – e desejamos que assim possa acontecer – seria demasiado mau para o ego de muitos brasileiros. No referido texto afirma, também, que “O temor é reforçado diante da resistência de diversos sectores da sociedade portuguesa, que vem levantando acalorados debates nos últimos anos”. Ainda sobre o posicionamento do referido intelectual português, ficámos a saber que condicionou a publicação de uma entrevista que concedeu ao jornal brasileiro ao “respeito da ortografia portuguesa sem modificações do Acordo Ortográfico.”. Hoje, parece bem claro para muitos de nós que esta questão do AO não é uma simples questão de ortografia. Não é mera questão de comunicação na língua em que todos nos devíamos entender. Se assim, quando assim seja, seria bom começar a separar as águas como os angolanos já começaram a fazer. O que pode querer dizer que, de facto, se assim se pode concluir, há uma grande diferença entre ter como recurso natural petróleo ou carvão. Mas, se é verdadeiro que tudo o que por aí dizem, sempre vale mais ter carvão do que ter nada. Possa até não ser o carvão da Vale uma simples miríade. Mas, Talvez, uma questão de negócio entre comadres e compadres. Ou, como se pode concluir pelas evidências, chuva em cima de pato.