domingo, março 25, 2012

Isto é uma vergonha

A confusão parece mais uma vez instalada. Na cidade de Maputo. Por via e obra de mais uma decisão, ou deliberação do respectivo Conselho Municipal. Menos feliz ou não devidamente pensada. Ponderada. Talvez, até, infeliz. Ou, por hipótese, não correctamente executada. Trata-se de uma repetição de situações anteriores e semelhantes. De poucos ou de nenhuns resultados práticos. Até contrários ou objectivos pretendidos. Não necessariamente por ordem cronológica, tivemos a questão dos controversos e famigerados paquímetros. Envolveu-se, também, o CMCM nessa aliança espúria com esses grupos de pretensos voluntários que se propunham auxiliar na regulação do trânsito rodoviário. Mas que única coisa que sabiam fazer bem e com exemplar mestria era tentar extorquir dinheiro ao automobilista. Através de comprovadas acções ilegais, por efectuadas à margem da lei, da exigência de diferentes documentos aos condutores. Também assistimos à tentativa, ao que parece igualmente mal sucedida, de fazer retirar dos passeios de tudo quanto seja barraca ou banca de venda de produtos diversos. Apesar de os seus proprietários pagarem taxas. No conjunto, parece terem sido todas elas medidas mal pensadas. Sem um mínimo de enquadramento na realidade. Em relação às quais não terão sido devidamente avaliados os efeitos possíveis da sua aplicação prática. Daí, os sucessivos recuos, o dar um passo em frente e dois, três passos atrás. O dar o dito por não dito. O faz e desfaz. Como se tudo isto fosse normal na gestão da capital de um país. E em democracia. Mas não é. Infelizmente para alguns. Que parece confundir a força da lei com a lei da força. Voltamos a estar presentes, voltamos a ser confrontados com nova e controversa decisão, ou deliberação, dos nossos municipais. Trata-se, agora, dessa ideia peregrina, talvez não sábia, de mandar bloquear as viaturas pretensamente mal estacionadas. Aqui, é bom repetir para deixar claro, pretensamente. Através de empresa privada contratada para o efeito. Mas, cujos termos do contrato são desconhecidos publicamente. Como são desconhecidas as suas competências legais e a sua área de actuação. Muito provavelmente, estaremos perante uma ilegalidade a que o CMCM está a tentar dar cobertura legal. Mas, trata-se de um exercício inútil. Por condenado ao insucesso. Ao fracasso. Os critérios sobre quando, por que motivo e onde podem ser blocadas viaturas devem, obrigatoriamente, ser conhecimento público. Como deve ser conhecido o destino dado ao dinheiro cobrado ilegalmente por esses parqueamentos legais. Em locais autorizados e permitidos por lei. Com toda a legitimidade que me assiste, interrogo se o CMCM, no seu conjunto, se sente confortável com todos estes disparates que está a protagonizar. Para concluir, e sem mais delongas, quero dizer coisa simples e que bem pode ser interpretada como sentimento, como sentir popular. Há dias, não muito, ao estacionar na parte de trás do centro comercial da Polana, uma jovem senhora deficiente física, alertou-me: “Papá, não deixa o carro aqui. Esses homens vão bloquear as rodas”. Decidi procurar outro local de estacionamento. Embora consciente de que o local onde estacionara não estava proibido por lei. No regresso, a pé, depois de estacionar a minha viatura bem longe, questionei a minha amiga: “Mas qual o motivo pelo qual não posso estacionar a minha viatura onde sempre estacionei?”. Respondeu ela, com a maior candura e com toda a sua honestidade: “Esses homens vão bloquear o teu carro. Para abrir as rodas, vais ter de pagar muito dinheiro. Isto é uma vergonha.”. De facto, senhores municipais, isto é uma vergonha.