domingo, maio 20, 2012

Estamos a falar uma linguagem diferente

Periodicamente, estamos a ser informados sobre novas descobertas de gás natural em Moçambique. Mais precisamente e com maior frequência na Bacia do Rovuma. Aquela que terá sido a última descoberta foi divulgada na edição do passado dia 16 do jornal “Notícias”. Que, a toda a largura da sua primeira página titula: “Eni e Anadarko anunciam mais gás”. Segundo a notícia, “As reservas anunciadas foram encontradas em águas profundas ao longo da bacia sedimentar do Rovuma, na sequência de dois furos de pesquisa de hidrocarbonetos abertos em Fevereiro e Abril, respectivamente.” A local, que localiza no tempo e no espaço a abertura dos furos, acrescenta: “Assim, até aqui a quantidade de gás natural anunciada pela Anadarko aproxima-se aos 50 triliões de metros cúbicos”. Conclui a notícia que “Fruto da descoberta de apenas duas empresas, o volume de gás natural até aqui anunciado supera os 80 triliões de gás natural”. Curiosamente, na mesma edição do “Notícias” (página 8), pode ler-se que a “Austrália possui gás para 184 anos”. Lê-se, a seguir, que “A Austrália possui reservas de gás de cerca de 11 biliões de metros cúbicos, o que assegura ao país quase 184 anos de produção daquele combustível aos níveis actuais (...). Ficámos também a saber que “a Austrália exportou 20 milhões de toneladas de gás natural liquefeito no ano fiscal 2010/2011 e que espera um aumento de 19 por cento para o período de 2012/2013”. Mais, “Em 2017, a Austrália deverá transformar-se no maior exportador mundial de gás natural liquefeito, com uma capacidade de 25 milhões de toneladas”. Comparando as formas de medição de reservas e de produção, entre uma e outra notícia, parece existir alguma discrepância. Nós falamos em triliões de metros cúbicos. A informação divulgada por fonte oficial australiana avança com biliões e milhões. Poderá haver, aqui, critérios diferentes de avaliar e de medir. De referir, apenas, que em matéria tão complexa, há normas e regras uniformes. Definidas internacionalmente. Onde nunca terão sido utilizados triliões. Muito provavelmente por não existirem. A obra “Petróleo: Qual Crise?”, da autoria de J. Caleia Rodrigues, editada em 2006, transporta – nos, ao longo das suas 239 páginas, aos “bastidores da geopolítica internacional”. Trata-se de uma profunda análise sobre reservas, exploração e meios de transporte de petróleo, carvão e gás. A nível planetário. Logo na introdução à sua obra, o autor adverte que, como alternativas ao petróleo, “As opções tomadas em relação ao gás natural e à energia de origem nuclear não apresentam, de início, perspectivas muito animadoras. A primeira devido às ligações de demasiada dependência entre o produtor e o consumidor (...)”. Porém, já quase no final da sua obra (página 181) ,ele escreve que “No que se refere a fontes de consumo energético, espera-se que o gás natural assuma a maior contribuição no incremento do consumo energético a ocorrer no mundo industrializado.”. Prevê, igualmente, um crescimento rápido do consumo de gás nesses países. Curiosamente, ou talvez não, nos quadros que nos apresenta com dados sobre reservas comprovadas e produção de gás, a nível mundial ou por regiões, a referência e a comparação é feita em biliões de metros cúbicos. Em nenhum momento, em nenhuma página, o autor escreve sobre ou menciona triliões. E ele utiliza fontes comprovadamente credíveis. Internacionalmente. Algo de estranho pode estar a passar-se nesta questão das reservas nacionais do gás natural. No mínimo, dizer que não estamos a falar uma linguagem internacional. Que estamos a falar uma linguagem diferente.