domingo, junho 10, 2012

Retirar a chucha ao bebé

A situação dos transportes públicos na cidade de Maputo continua a ser de crise. Parece longe de solução definitiva. Apesar da aquisição de dezenas de viaturas nos últimos tempos. Seja de 150 autocarros a gás e de 70 a diesel, só em 2010. A procura de transporte excede, continua a exceder, largamente a oferta. Daí o surgimento, talvez melhor o ressurgimento das carrinhas de caixa aberta. Que não oferecem um mínimo de comunidade nem de segurança aos passageiros. Esta realidade, que parece teimar em não desaparecer, leva os gestores municipais a apontarem para a necessidade de aquisição de 600 novas viaturas. Daí, o estarem à procura do respectivo financiamento. Digamos, comentemos desde já, que se trata de um número de viaturas que parece demasiado elevado para a nossa realidade interna. Caseira. A menos que algo nos esteja a escapar em ternos de análise. Ou que estejamos, como alternativa, perante um processo de mal disfarçada má gestão. Tanto no processo de aquisição dos referidos autocarros como na gestão da frota. Em si mesma. Na sua última edição, este semanário dedicou largo espaço à problemática dos transportes colectivos na cidade de Maputo. Sobre as á referidas viaturas adquiridas em 2010, escreve que “Destes meios disponíveis apenas metade é que está em funcionamento devido aos elevados custos de manutenção e a falta de peças sobressalentes para os existentes”. O mesmo semanário escreve que “Pelo que tudo indica os meios de transporte mais difíceis, tanto em termos de manutenção, como abastecimento, são os que usam gás”. E cita um responsável municipal pela área dos transportes a dizer que “Há dias que não fazemos uso de autocarros a gás, pois este tipo de combustível é distribuído por uma única empresa e torna-se difícil ficar mais de 30 minutos na fila para abastecer apenas um autocarro. Neste momento precisamos de um dia inteiro para aprovisionar os 150 autocarros.” Espantados com esta realidade, é o mínimo que podemos estar. Todos nós que, através dos nossos impostos e das nossas contribuições fiscais, havemos de pagar o custo das viaturas. Perguntemos, então, coisa simples e primária: Aquando da aquisição das viaturas movidas a gás a situação era diferente da actual? Se não, o que impediu os TPM de terem criado condições para as abastecer nas suas instalações e durante a noite? Mais, em que circunstâncias e por quem foi autorizada esta importação? Sabendo-se, então, como já se sabia, que este tipo de viaturas não tinha mínimas condições para circularem normalmente e com a desejada regularidade. Ora, se essas viaturas não circulam por falta de condições de abastecimento, que fazer delas? Ou que fazer com elas? Pode também, e deve, perguntar-se de que tipo são essas mais 600 viaturas que se pretende importar. São mais viaturas destinadas a ficarem paradas com base em infantis desculpas ou são, na realidade, viaturas com condições para fazer face às reais necessidades das populações. Para poderem funcionar todos os dias, quer esteja a chover quer esteja a fazer calor. Comecemos por desejar que haja concursos públicos claros e transparentes. E, também, que seja clarificado o processo das aquisições anteriores que motivaram a realidade da crise actual. Para ficarmos, todos, a saber se se tratou apenas de mera incompetência. Em paralelo, parece não ser descabido avançar com a ideia de uma auditoria forense aos TPM. E uma investigação pelo Gabinete Central de Combate à Corrupção. Como precaução, como medida cautelar, parece bom aconselhar a que se comece por retirar a chucha ao bebé.