domingo, outubro 21, 2012

Lógica do dumba nengue

A discussão pela Assembleia Municipal da Cidade de Maputo do aumento do preço dos transportes urbanos já trouxe à luz do dia alguns aspectos importantes. E, terá confirmado outros. O primeiro é que os gestores municipais estão, continuam, convencidos, convictos, que a área pode gerar lucros. No mínimo que é um negócio sustentável. Em que as receitas podem cobrir as despesas. Segundo o jornal “Notícias”, edição de 25 do corrente (página 3), sob o título “Nova tarifa poderá ser aprovada hoje”, depois de abordar a questão dos aumentos, escreve: Com a actual tarifa, a empresa municipal gera uma receita mensal estimada em 18 milhões de meticais para um nível de despesas aproximado de 26 milhões de meticais. A implementação da nova tabela possibilitará uma colecta de receitas mensal de cerca de 26 milhões de meticais, para gastos mensais de 29 milhões de meticais, reduzindo, deste modo, o défice de oito para três milhões de meticais, segundo a explicação dada durante a apresentação da proposta. Mais acrescenta a local que As autoridades municipais defendem que a medida vai mudar para melhor a situação da companhia, porque actualmente a empresa municipal tem 250 autocarros, mas apenas 110 circulam por causa dos elevados custos operacionais. Assim sendo, caso a nova tabela seja a aprovada, o número de carreiras que circulam diariamente irá aumentar, servindo mais utentes. À hora a que escrevo, ignoro, por completo, se as novas tarifas terão ou não sido aprovadas. Espero que não. Se sim, a própria Assembleia Municipal poderá ter dado um tiro no pé. O que, de todo em todo seria, desagradável. Nada dignificante. Como se pode verificar pelo acima escrito, e em repetição do dito em testos anteriores, o Conselho Municipal da Cidade de Maputo continua a acreditar que os transportes urbanos, públicos e privados, podem ser rentáveis. Mas não. A realidade demonstra que não. Trata-se de um serviço social que deve e tem de ser subsidiado pelo Estado. Pensar o contrário, agir de forma contrária é teimosia. É persistir no erro. Verdade seja dita, nada disto paga imposto. Valha-nos isso, pelo menos. Mas, é também e muito principalmente tentar subverter as leis da economia. O que já é bem mais grave. Dizer também, que a gestão dos Transportes Públicos Urbanos peca por falta de visão. E de visão empresarial numa realidade concreta. Depois de terem dito e repetido, de terem tentado fazer acreditar ao público que o seu problema era de falta de viaturas, ficámos a saber que afinal não é. Isto porque das 250 viaturas que possuem, apenas 110 circulam por causa dos elevados custos operacionais. Perguntemo-nos e perguntemos e estes gestores e ao próprio Conselho Municipal se só descobriram o montante dos ditos custos operacionais depois de terem importado as viaturas. Certamente que não. Mas, por hipótese, admitamos que sim. Se sim e se assim, qual a lógica de estes mesmos senhores gestores terem vindo a público manifestar a sua pseudo preocupação em encontrar meios financeiros para importarem mais 600 viaturas. Por forma a resolveram definitivamente o problema do transporte dos citadinos. Convenhamos que são muitas centenas de autocarros. Demasiadas. Não para a vontade nem para o desejo. Mas para o dinheiro que temos. Que sendo pouco e conseguido com muitos sacrifícios, deve ser gerido com critérios de austeridade. O contrário, não passa da lógica do dumba nengue.