domingo, outubro 14, 2012

Resta saber se irão ter tempo

Anuncia-se para breve um aumento do preço dos “chapas” na capital do país. Um aumento na ordem dos 40 por cento. O que em termos monetários parece insignificante. Mas que em termos percentuais é deveras significativo. E vai representar um substancial agravamento do custo de vida. Para os cidadãos e para os agregados familiares. No seu conjunto. Na sua edição do passado dia 17 (página 3), o jornal “Notícias” titula que Proposta de nova tarifa na Assembleia Municipal. E, logo a seguir, esclarece que A proposta de alteração da actual tarifa do transporte semicolectivo de passageiros (chapa) será apresentada próxima semana à Assembleia Municipal de Maputo (AM) para discussão e posterior aprovação. Pela forma como o texto está escrito, a aprovação é, à partida, um dado adquirido, um facto consumado. Quanto aos valores dos aumentos, lemos que A proposta do Conselho Municipal prevê o aumento gradual do preço do “chapa”, começando com um acréscimo na ordem dos 40 por cento em relação às actuais tarifas de 5 e 7.50 meticais. Assim sendo (...) a actual tarifa de 5 meticais passaria a custar 7 meticais e a de 7.50 meticais passaria para 9 meticais. Dizer, desde já, que os novos valores propostos não correspondem a um aumento de 40 por cento. Terá havido, por certo, um erro de cálculo. Que seria, de todo, importante corrigir. Ou esclarecer. E, esclarecer como é que um aumento de 40 por cento sobre 7.50 meticais resulta em 9 meticais. De facto, a matemática, as regras de cálculo também já não são iguais para todos. Estão condicionadas a variantes e a variáveis, de acordo com a vontade e o desejo de quem manda. De quem se assume como poder. Na tentativa de fazer aceitar de forma pacífica os aumentos propostos, o texto do “Notícias” informa que A proposta foi apresentada em várias reuniões populares e nessa ocasião colhemos diversas propostas no sentido de melhorarmos o serviço para que o aumento das tarifas não seja mal acolhido (...). Será que aqui se inclui o afastamento, definitivo, mesmo e se necessário coercivo, dos “chapas”de caixa aberta? Que transportam seres humanos em piores condições do que transporta gado. Claro que não. Pura ilusão. Pura tentativa de manipular a vontade e os sentimentos populares para tentar justificar a aceitação dos aumentos. Pacificamente. Mas cuidado. Mexer no bolso do cidadão quando ele já tem tão pouco, é sempre um risco. Esperemos que seja um risco calculado. Previsto. Ao longo dos anos, de muitos anos, a discussão, entre nós, sobre o preço dos transportes públicos urbanos parece ter assentado em premissas falsas. E parece continuar a ser assim. É que em cidade nenhuma do mundo, os transportes públicos urbanos são rentáveis. Permitem obter lucros. Aqui, pretende-se tentar demonstrar o contrário. Pretende tentar demonstrar-se que podem dar lucros. Que podem funcionar sem subsídios do Estado. Ou do governo municipal. Vai daí, o CMCM demite-se de prestar ao cidadão os serviços a que ele tem direito. Importa dezenas, centenas de viaturas que, depois, avariam. Por má gestão. Por incompetência. E tenta transmitir-nos a ideia de que a culpa é dos privados. Certamente que não é. Pelo menos na sua totalidade. A verdade é que os “chapas” de caixa aberta voltaram a invadir a cidade. Não pagam licenças, não pagam taxas, não pagam impostos. Para eles, a cidade de Maputo é uma selva. Onde impera a lei do mais forte. E eles, são os mais fortes. Até ver. Até que, com seriedade, se procure uma solução definitivamente para o problema. Até aqui o que vimos, aquilo a que assistimos, é que todos tentam saltar fora do barco. Quando o barco ameaça afundar-se. Resta saber se irão ter tempo.