domingo, abril 28, 2013

Deixem mais do que buracos

A Vale parece ter recuado na sua posição. Isto no que respeita no conflito que a opõe aos oleiros de Moatize. Que há pouco tempo haviam bloqueado as vias por onde é escoado o carvão até ao Porto das Beira. Isto é, estrada e caminhos-de-ferro. Em comunicado que fez publicar como texto publicitário, e que como tal terá sido pago, no jornal “Notícias” (página 5, edição de 24 do corrente mês), informa que retomou as conversações com os representantes das comunidades dos oleiros de Moatize, sob o envolvimento do Governo. Adianta o texto que estamos a citar que O objectivo é buscar soluções conjuntas e desenvolver iniciativas de incremento de produção de renda, no nível micro - empresarial, que permitirá a integração dos oleiros nessas actividades. Logo a seguir pode ler-se que a Vale reafirma o seu profundo respeito ao direito que o cidadão tem de expressar suas opiniões, pacificamente, e está sempre aberta a conversar com a sociedade. Termina o comunicado, que é difícil de saber se terá sido acessível aos produtores de tijolos de Moatize, que A Vale mantém o compromisso em contribuir com acções para garantir o desenvolvimento integrado e sustentável das comunidades nos ambiente onde actua, incluindo a indústria de fabricação de Tijolos em Moatize. O texto acima, é a transcrição integral da epístola da mineira brasileira. Sem necessidade de qualquer pagamento. De resto, ninguém percebe muito bem para que serve e a quem se dirige. Talvez a ninguém. Pode não passar de maneira ardilosa de atirar poeira para o ar. Ou para os olhos dos oleiros. Pelo que estamos a ler e a ver, parece que a Vale decidiu mudar de estratégia. Optar por alterar o seu comportamento. Relativamente aos moçambicanos. Aos donos da terra. Aos indígenas. Aos nativos. Aos cafres. Alguns dos quais, ao que parece muitos, por mero acaso, são oleiros. Com direitos adquiridos. A posse da terra, pouca que seja, em Moçambique, não pode ser alienada por míseros 60 mil meticais. Um valor, certamente, inferior ao que um expatriado brasileiro ganha por hora. Esperamos que a mineira brasileira tenha compreendido, em definitivo, em que terra está a abrir buracos. E que tenha dirigentes com um mínimo de cultura e de lucidez para saberem que não passam de colonialista de terceira geração. Há mais de cinco séculos por aqui aportaram navegadores europeus. Principalmente portugueses. Mas, ao que se sabe hoje, quase um século antes deles já os chineses navegavam nas costas do Índico e do Atlântico. De sul para norte. E que, contornando as Ilhas de Cabo Verde, pelo norte, daí se fizeram às Américas. Onde terão aportado e desembarcado em vários e múltiplos locais. Em terras até então não conhecidas. Mas que terão identificado e mapeado. Deixando, até múltiplas colónias. Sobretudos muitos homens que procriaram, que fizeram filhos, com as mulheres locais. Hoje, assalta-nos a dúvida se estes brasileiros, que nos prometem um mundo do faz de conta, são descendentes de chineses ou de portugueses. Se o são de portugueses, só podem ser descendentes das elites coloniais. Colonialistas. Em nenhuma situação se vislumbra filho de escravo na liderança. No poder. Muito menos no Brasil. E que até tenta impor um malfadado Acordo Ortográfico. Dizer que, por cá estamos todos bem. E que, por nós, queremos coisa bem simples. Bem pouca. Que quando acabarem a exploração do carvão de Moatize, deixem por cá também alguma riqueza. Deixem mais do que buracos.