sábado, fevereiro 14, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo
15 de Fevereiro 2004

antes e depois

Luís David



estamos num período de graça



Os presidentes dos Conselhos Municipais, vencedores das últimas eleições autárquicas, já tomaram posse. Todos. Quase de certeza, reservaram os primeiros dias de actividade para tomar contacto com a realidade que lhes foi deixada. Para encontrar e nomear os seus novos colaboradores mais directos. Os colaboradores com os quais, e só com o apoio dos quais, poderão cumprir o seu manifesto eleitoral. Depois, depois, será aquilo a que se costuma chamar o “arregaçar das mangas”. O mesmo é dizer, avançar para o trabalho. E, neste país, o que não falta é trabalho. Falta, isso sim, emprego. Mas, trabalho e emprego são realidades diferentes. Em termos de economia, são questões absolutamente diferentes. Mas que alguns tecnocratas indígenas parece terem dificuldades em distinguir. Digamos que, no exemplo de uma situação extrema, eu posso ter emprego sem ter trabalho. Posso ter emprego sem ter necessidade de trabalhar. Enquanto muitos outros, muitos de nós outros, tendo trabalho não têm emprego. Logo, coloca-se-lhes a questão, definitiva, de ter de trabalhar para sobreviver. E ter de trabalhar para sobreviver não é crime. O que é crime é roubar. O que é crime é dar pancada a quem está a trabalhar. Sendo que a única e a última alternativa de trabalho, para alguns, para muitos e muitas, possa ser o comércio de manga, de papaia, de batata doce ou de beringela. Também de piri-piri, de alho e de ananás E, de manga, de limão e de salsa, de coentro ou de folha de hortelã . Numa qualquer esquina. E, diga-se, desde já, que comprar, adquirir tudo isto e o mais que se nos ofereça nestes vendedores legais, é uma forma de apoiar o comércio e a produção nacional. O que está errado não é este tipo de comércio. O que está errado é permitir-se a concorrência a este tipo de comércio de produtos nacionais por produtos importados. Sem qualidade comparativa.


Certamente que com a melhor das intenções, munícipes de diferentes municípios, mas especialmente de Maputo têm, nos últimos dias, vindo a manifestar os seus desejos, a sua opinião, sobre os problemas reais que deseja ver resolvidos no imediato. São, sem dúvida, preocupações justas. Possam, embora, as intenções não ser, de todo, correctas. E, isto pelo simples facto de que um conselho municipal, todos os conselhos municipais, que foram eleitos, não deverem ser sujeitos a este tipo de pressões. Os conselhos municipais eleitos, como os governos eleitos, em qualquer país do mundo, têm direito ao chamado período de graça. Um período de graça que tem a duração de cem dias. E, .que visa avaliar se, nesse período, os eleitos estão ou não a cumprir as suas promessas eleitorais. Depois sim, depois dos cem dias de governação coloquemos as questões todas. Para já, e a nível dos 33 municípios, concedamos um período de graça. Concordemos que estamos num período de graça.