sábado, fevereiro 21, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo
22 de Fevereiro 2004

antes e depois

Luís David



Para que as próximas gerações possam rir


Há, naturalmente, várias formas de governar uma cidade como Maputo. Para não dizer que, no geral, há diferentes e diversas formas de governação. Uma, pode ser estudar processos, efectuar visitas a diferentes locais, escutar preocupações, decidir por consenso. Melhor, decidir com bom senso. Outra, pode ser fingir que se escuta preocupações e, depois, agir em contrário. Ou agir em defesa de interesses outros, de interesses menos claros. Claramente, de interesses que não sendo interesses dos cidadãos nunca serão interesses da cidade. Menos ainda do Município. Outra maneira de governar, entra várias possíveis, é, de vez em quando, atirar poeira para os olhos do cidadão. Para se poder dizer que se fez o que nunca houve intenção de fazer. E, é aqui, precisamente, que começa a história. É aqui, exactamente, que se pode começar a ver a ignorância e a estupidez de quem, devendo governar desgovernou ou, por hipótese, se governou. A si próprio. Bem entendido, tanto a estupidez como a ignorância ou a incompetência pagam impostos ao Fisco. Como impostos não pagam os negócios marginais ou os ganhos ilícitos. Mas, o diz a lei é uma coisa e, outra bem diferente, é a forma como os homens decidem aplicar a lei.


Foi a cidade de Maputo invadida, de forma selvagem, por dezenas, talvez centenas, de painéis publicitários. Dos mais diversos tamanhos e construídos com os mais diversos tipos de materiais. Muitos dos quais nos agridem. Nos insultam. E que estão colocados em locais onde deveria haver relva e espaços verdes, em espaços considerados nobres e de interesse público. Mas, se lá estão, é porque alguém autorizou que lá estejam. Mesmo sabendo que aqui e ali, obras de arte popular, com dimensões apropriadas, em barro, ferro, madeira ou pedra, bem podiam dar outra beleza a Maputo. E incentivar os artistas nativos para serem os artistas da cidade. Reconhecer-lhes o mérito. Mas não o que assistimos é ao ridículo. Ao ridículo de alguém que, tendo autorizado a colocação de todas essas dezenas de painéis publicitários, vem agora dizer que tal já não é permitido. Isto, depois de ter terminado o seu mandato. Não acreditam? Acreditem. Com data de 30 de Janeiro de 2004, o Conselho Municipal fez publicar, em vários jornais, um aviso segundo o qual são avisadas todas as Agências de Publicidade e o público em geral que, por razões de salvaguardar a estética desta urbe, não é permitida a colocação de painéis gigantes no interior desta cidade. Tal decisão, tal anúncio público, tanto pode significar ignorância como uma casca de canana. No mínimo é ridículo. E, tudo o que é ridículo, anedótico, faz rir. E, se como se afirma, rir faz bem à saúde, vamos todos rir. Ou, se considerarmos que não basta rir, façamos registar a decisão no anedótico da estupidez. Para que os hão de vir depois e nós também possam rir. Para que as próximas gerações possam rir.