segunda-feira, maio 30, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Maio 15, 2005

antes e depois

Luís David


retratem-se e peçam desculpas públicas

Começam a surgir alguns sinais de estarmos a viver numa sociedade sem ideias. Sem ideias novas, no mínimo. Talvez, para se ser mais preciso e mais concreto, numa sociedade que alguém classificou de “sociedade normalizada”. Só que a tal “sociedade normalizada” resulta, ou assenta, em consensos. Pode não ser, exactamente, o nosso caso. E, efectivamente, não o é. Basta recordar o que se passou na última sessão do Parlamento. O debate, em torno dos documentos apresentados, produziram pouco mais do que nada. Em termos de ideias, produziram nada. Coisa nenhuma. Quem apresentou os documentos, tinha a certeza que, por ter a maioria, eles seriam aprovados. Quem os criticou, criticou sabendo que, estando em minoria, não tinha a mínima possibilidades de impedir a sua aprovação. De facto, neste sistema e com este sistema parlamentar, sequer é necessário ter ideias. Basta algum dom de oratória, duas mãos para poder bater palmas, que agora se exigem ritmadas, e a qualidade para proferir e aceitar o insulto. Embora insulto seja, assim o entendemos, arma de fracos. Arma dos sem argumento. Venha de que bancada venha. E, ali naquela Casa, no Parlamento, onde é suposto todos estarmos representados, o que não falta é o insulto. Barato, bacoco, despropositado, ofensivo, ridículo. Mas, também não falta o discurso bajulatório a que se podem adicionar os mesmos objectivos. Agora, quanto a ideias, a ideias novas, essas são nenhumas. Bem haja, quem não pode, não quer ou não sabe pensar.


Foi dito por aí, apregoado e titulado, na semana passada, que há Corrupção muito forte na classe jornalística. Claro que sim, claro que há. E, nem era necessário ter esperado por uma sexta-feira 13, nem pelo 13 de Maio, Dia das Aparições em Portugal, como aconteceu, para fazer esta revelação. Todos sabemos que assim é. E, mais do que isso, todos sabemos que pode haver corrupção entre médicos, professores, engenheiros, funcionários, advogados, magistrados. Certamente que haverá. Quase de certeza que há. A corrupção existe entre profissionais de todas as classe e em todos os países. O que não há, o que não existe num único país, é homens completamente bons e homens completamente maus. Todos os homens têm algo de bom e algo de mau. Não existe o homem absolutamente bom, como não existe o homem absolutamente mau. O homem é. E, o Homem é o que é. Mas, deixemos a discussão filosófica a atenhamo-nos na frase é fácil entrar num jornal e pagar a um jornalista para escrever sobre um assunto. Quem assim o disse, segundo o jornal “Savana”, foi Isabel Rupia, directora da Unidade Anti-Corrupção. Alice Mabota, presidente da Liga dos Direitos Humanos, durante o mesmo encontro, organizado por países nórdicos, terá falado em termos semelhantes. Ora, a questão que se coloca às duas ilustres juristas é muito simples: Se sabem que há jornalistas corruptos o que as impede de revelar os seus nomes. Mais, o que impede a senhora que dirige a Unidade Anti-Corrupção de mover um processo, de agir no foro judicial, contra os jornalistas que julga saber serem corruptos. Claramente, há diferentes formas de cada um fazer plasmar o seu nome nos jornais. E, de nos vir dizer que está a combater a corrupção. Esta, é, parece ser, simplesmente ridícula. Caso contrário, caso possam provar o que afirmam, divulguem, publicamente nomes. Caso não, caso não tenham coragem para apresentar nomes de jornalistas corruptos, retratem-se e peçam desculpas públicas.