segunda-feira, maio 30, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Maio 8, 2005

antes e depois

Luís David

um governo sem legitimidade

Começo, hoje, por onde era suposto dever terminar. Exactamente, pelo fim. E, o fim, seria uma Nota de Autor. Solicitada e autorizada por quem tem poder para assim decidir. É que, sucede, algumas vezes aquilo que se escreve, a mensagem e a ideia que se pretendem transmitir não são exactamente o que sai impresso. Dizem-me, e quero aceitar que assim seja, que de outra forma não faz sentido ser, que se trata do resultado, do preço a pagar pela introdução de novas tecnologias. Que seja. Agora, o que podemos é regatear, negociar o preço para que não seja demasiado elevado. E, convenhamos, quando se troca ou se repete o título de um texto, o “preço” é sempre elevado para o autor. Pretende justificar este longo intróito a explicação para o facto de o título do meu texto publicado na última edição ser o mesmo da edição anterior. Ora, quem se tenha dado ao trabalho de ler o texto do último domingo, terá entendido que o título correcto seria Agir em defesa do deixa continuar. Sem culpa, ficam as desculpas.


Viajante assíduo entre Maputo e o sul de Gaza, habituei-me a ir comprando, ao longo da estrada, alguma coisa do já muito que é oferecido. Fruta e legumes aqui, peixe e caju mais além, loiça de barro e pássaros noutro local, galinhas e carvão onde estão expostos. Estranhei, em ida recente, não ver vendeiras de banana, mandioca e batata doce nos passeios da principal artéria da vila da Manhiça. . Investiguei, no regresso e, depois de ter desfrutado a magnífica vista sobre o Incomáti, fui encontrá-las numa transversal. Sem movimento e sem compradores. No Bilene, o enorme mercado permanece sem vendedores desde que foi construído. Na sua frente, na marginal, vende-se de tudo um pouco o que se pode encontrar em loja ou supermercado de Maputo. Assim como alguns produtos locais. Na parte de trás, não faltam diversas variedades de peixe, camarão e caranguejo. Digamos, este mercado é uma obra inútil para a população local. Com o dinheiro ali gasto poderia ter sido construído um óptimo posto de saúde ou duas razoáveis salas de aulas. Em Maputo, na cidade de Maputo, na cidade que é a capital do país, parece estar a haver algumas tentativas de recuperar métodos de governação de um passado recente. Mas de triste memória. Em que a norma era o recurso à violência. E, através da violência, a confiscação de produtos a cidadãos pacíficos. A questão que se coloca, hoje e agora, parece ser muito simples. Simples de mais para a mentalidade e para a capacidade de compreensão dos fenómenos sociais por parte de alguns dos actuais vereadores de Maputo. Ao que parece, constitui violação de posturas, que ninguém conhece, ocupar passeios algures. Mas, ao que parece, e a realidade manda dizer que assim é, não constitui violação de posturas ocupar passeios com exposição e venda de flores e de artesanato em outras artérias de Maputo. Como é o caso concreto da Marginal e das Avenidas 24 de Julho e Nyerere, entre outras. Começa a ser cansativa e a causar preocupação, também algum nojo, esta aplicação dual da lei. E, a prosseguir-se por este caminho, adivinha-se o risco de tendo um governo legal, termos um governo sem legitimidade.