terça-feira, setembro 12, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Setembro 10, 2006

antes e depois

Luís David


Uma espiral de morte


Nas últimas semanas, a cidade de Maputo registou, no mínimo, três casos de tiroteio. Envolvendo ou contra agentes da Polícia. Houve feridos, houve mortos. No primeiro caso, registado no Bairro do Triunfo, foi morto um chefe de brigada. Num bar, pouco distante de uma Esquadra, foras das suas horas de serviço. E, ao que parece, sem tido tempo para esboçar gesto de defesa. Terá sido assassinado à queima-roupa. No segundo caso, poucos dias depois, dois agentes que, ao que parece, pertenciam à brigada do falecido foram alvo de tentativa de assassinato. Ao princípio da noite, perto da Praça Robert Mugab. Ficaram feridos. No terceiro e último caso, dois agentes da Polícia e um terceiro homem, foram mortos pela Polícia. Em circunstâncias pouco claras. Em circunstâncias algo polémicas e que estão a permitir alimentar diferentes versões. Convenhamos que são demasiados casos e muitos mortos em tão curto espaço de tempo. Principalmente por nesses casos, em todos estes casos, terem estado envolvidos agentes da Polícia. Sem se pretender tirar conclusões precipitadas, parece importante fazer uma reflexão séria e profunda. É necessário que quem tem por missão garantir a segurança e a ordem públicas faça um exercício de reflexão e, para além de palavras de ocasião, através de comunicado deixe claro o que se passa. O que se está a passar.


Da avaliação dos relatos da Informação escrita, fruto de investigação jornalística ou de declarações oficiosas, resulta alguma preocupação. Pode ficar a preocupação de ter existido alguma relação promíscua, alguma ligação perigosa, algum acordo secreto entre agente policial e criminoso. E que quando uma das partes violou esse acordo, as armas disseram de sua justiça. Porque ambas as partes, agente policial e criminoso, estão armadas. É suposto que a arma do criminoso é para praticar o crime. E que a arma do agente policial é para combater o crime. Para defender, para proteger o cidadão do criminoso. Pode não estar a acontecer assim. Hoje, expressões como vingança, traição e ajuste de contas, tornaram-se frequentes. E tornaram-se em tentativas de justificativo para os confrontos armados entre polícias e bandidos. O que em nada ajudando a compreender, menos ainda ajuda a combater o fenómeno. Pode, até, ser motivo de preocupação. E é, certamente. Ora, aceitando como verdade que os dois agentes da FIR, mortos na Matola Rio, eram perigosos bandidos, há muito procurados pela Polícia, fica uma única certeza. A certeza de que, neste momento, não temos certeza nenhuma. Que não é possível, que não nos é possível, neste exacto momento, saber se, quando estamos perante um agente policial estamos perante um agente policial que nos protege ou perante um serviçal dos criminosos. De um agente da polícia ao serviço e pago por criminosos. Sejamos claros e frios no pensar. Ao pensar. Ainda há tempo, parece ainda haver tempo para inverter a situação. Com medidas claras e concretas. Caso não, podemos estar a abrir espaço para uma espiral de violência. Uma espiral de morte.