quinta-feira, setembro 07, 2006

Publicado em Maputo, Moçcambique no Jornal Domingo de Agosto 19, 2006

antes e depois

Luís David


o medo do criminoso pode fazer alterar a lógica

O crime organizado é isso mesmo. É crime e é organizado. O crime organizado, para além de ser crime, tem como base uma organização. Um sistema. Uma hierarquia. O crime organizado, nunca foi e alguma vez será, aquilo que conhecemos como quadrilha de ladrões. Como a quadrilha que actua no bairro, durante a noite, ou em pleno dia numa qualquer artéria citadina. Que rouba telefone móvel, artigos diversos, valores mais ou menos elevados destinados ao pagamento de salários a trabalhadores. E que, de quando em quando, tiro para cá, tiro para lá, deixa umas tantas vítimas caídas por aí. O crime organizado parece, e é, coisa bem diferente. Bem mais sofisticada. Com métodos de actuação, aparentemente, irrepreensíveis. Integrando pessoas, aparentemente, honestas. Mas que, convenhamos, não olham a meios para atingir os seus fins. E, os seus fins são o crime. Digamos que, em última análise, o crime organizado pode, até, integrar os mais insuspeitos. Gente que a gente se habituou a ver como gente boa. Como aquilo a que se chama, erradamente, gente de bem. Gente sorridente bem falante. Mas que, pode bem acontecer, tem ao seu serviço todo um exército que lhe obedece e que está sempre pronto a executar as suas ordens, a cumprir os eus desígnios. O crime organizado, como hoje o conhecemos, como hoje é, tem tentáculos, tem ramificações por onde menos se possa imaginar. Usa, utiliza a ameaça e a chantagem. Para conseguir, para impor o silêncio. Daí o silêncio, os muitos silêncios. As muitas vozes silenciadas.


Cinco anos depois, pouco ou nada se sabe, publicamente, sobre o assassinato de Siba-Siba Macuácua. Ou, por outra, sabemos, todos, o que todos sabem. Que era um homem bom e honesto, que foi incumbido de uma missão. Depois, bem, depois foi assassinado. Sabemos, também, como foi praticado o crime. Continuamos a não saber, também, quem o praticou. Agora, neste tempo de hoje, colocam-se as perguntas que sempre se colocam neste tipo de assassinatos. Como, por exemplo, a quem interessava a morte da vítima. Pensa-se, admite-se, talvez de forma errada, que aos devedores ao Banco Austral. Mas, poderá não ser assim. Poderá ser útil colocar outras hipóteses de investigação, outras hipóteses de trabalho. Assim, poderá ser útil alertar para outros caminhos, para outras vias de investigação. Bloqueadas, aparentemente, até hoje. Por exemplo, pode ser útil, em termos de investigação e de busca da verdade, conhecer mais do que o nome dos devedores. Saber, conhecer, os nomes dos gestores que autorizaram os empréstimos. Saber quem concedeu os créditos. O que, até hoje, permanece segredo. É que há, continua a haver, nomes de devedores, mas não há nomes de quem autorizou os empréstimos, nomes de quem é responsável pelas dívidas. Depois, a questão lógica que se coloca, que se coloca em relação a este crime, deve ser colocada em relação a outros. Anteriores. A pergunta, pode ser colocada nos mesmos termos. A quem interessou a morte de Carlos Cardoso, a quem interessou, anteriormente, a morte de Samora Machel. É facto, comprovado, que o crime organizado tem uma lógica. A lógica do criminoso. Já não é facto comprovado que o crime organizado seja lógico. O factor medo, aqui, pode ter um peso determinante. Ou seja, o medo do criminoso pode fazer alterar a lógica.