terça-feira, maio 08, 2007

muita coisa irá ficar encoberta

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Maio 6, 2007

antes e depois

Luís David

De tempos em tempos, somos confrontados com o conhecimento de determinados crimes violentos. Digamos, com assassinatos de certo modo espectaculares. Praticados entre ou contra estrangeiros. Alguns praticados em plena via pública e em pleno dia. Na maioria dos casos, parecendo apontar para ajustes de contas. Hipoteticamente, entre grupos rivais. Entre grupos que possam estar a disputar um mesmo negócio. Entre grupos que possam estar a entrar ou tenham entrado em terreno que outro pretenda seu. Em exclusivo. Curiosamente, trata-se de um tipo de crime cujo resultado da investigação não consta alguma vez ter vindo a público. Ou porque nunca tenha sido conclusiva, ou porque possa ser mais forte o desejo para fazer esquecer do que para clarificar o crime. Neste campo, nesta área, diga-se de passagem, também a investigação jornalística em nada tem contribuído para ajudar a esclarecer o fenómeno. Em nada tem sido mais feliz do que a investigação policial. E, parece importante que o tivesse sido ou venha a sê-lo. Quanto mais não seja para limpar e desfazer muitas das especulações que se sucedem a este tipo de casos de morte violenta.


Parece haver, na maioria destes casos de crime violento, alguns aspectos comuns. Alguns aspectos coincidentes. Um deles, é o das vítimas serem identificadas como empresários ou comerciantes. Outro aspecto, é o de serem identificados como cidadãos de origem paquistanesa. Ainda um outro aspecto, ao que parece, também comum em todos os casos recentes, é o de tanto as vítimas como os assassinos serem portadores de armas de fogo. Aliás, na foto publicada pelo jornal “Savana”, na sua última edição, é bem visível uma arma no interior da viatura da vítima. Logo, é possível concluir que a vítima circulava armada, em pleno dia e em plena cidade de Maputo. O que fica por esclarecer, até que os investigadores o esclareçam, o digam publicamente, é se a arma é legal ou é ilegal. Se está registada e, caso sim, em nome de quem foi passada a licença. Depois, seria importante conhecer que tipo de actividade legal exercia a vítima mortal e o seu acompanhante ferido. E, por fim, saber se essa actividade legal justifica, em circunstância alguma, que as vítimas circulassem armadas em pleno dia, em plena cidade de Maputo. É que, aceitando, simplesmente, ter o assassinato resultado de um ajuste de contas, muita coisa fica por esclarecer. Ou, entrando no campo das especulações e dito de ponto de vista inverso, muita coisa irá ficar encoberta.