quinta-feira, maio 31, 2007

um caso por encerrar

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Maio 27, 2007

antes e depois

Luís David

Com maiores ou menores intervalos no tempo, jornais e jornalistas recordam-nos que existe, preso, um criminoso que ficou conhecido e que se assume como “Anibalzinho”. Com reconhecida capacidade de imaginação e de pretenso realismo, procuram transportar-nos para a realidade do detido. Fazem suposições e levantam suspeitas. No mínimo, sugerem. Publicam texto manuscrito com autoria atribuída ao preso. Foi assim esta semana em pelo menos dois semanários. Que dedicaram largos espaços ao tema “Anibalzinho”. Pode ter sido simples coincidência. Como pode não. Considerando que num dos jornais o objectivo parece ter sido o de alertar, o de precaver, uma possível eliminação física do condenado. No outro, a tónica aponta mais para o drama, para o melodramático. É aqui que o preso aparece a dizer que “fui muito usado pela fraqueza de ser pobre”. E, mais, que “hoje prefiro ser fuzilado por tudo o que estou a passar e a sofrer neste comando da Policia”. Pela retórica do texto, se mais não houver, ficamos a saber que ser pobre é uma fraqueza. E que a morte é o melhor processo para eliminar o sofrimento.


Parece não ser pelo retomar periódico do assunto “Anibalzinho” que algo de novo veio a público sobre o que foi provado no julgamento do chamado “Caso Carlos Cardoso”. Sequer parece ter havido, até hoje, arrependimento dos criminosos. Muito menos revelações novas e públicas que possam levar a pensar não terem sido justas as penas. Ou, em caso extremo, podermos estar perante um hipotético erro judicial. O que há, pelo menos o que parece existir, são enormes zonas de penumbra nas quais ninguém deseja penetrar. Nem o próprio condenado que tenta, que procura, neste presente, chamar a atenção pública para as suas condições prisionais. Que tenta, ou alguém por ele, apresentar-se como vítima de uma situação em relação à qual pouco tem a ver. As coisas não são, nunca foram bem assim. É para além do crime, pela prática do qual foi condenado, o assumido “Anibalzinho” saiu duas vezes da cadeia. Enquanto decorria o julgamento. E é neste aspecto que pode contribuir para esclarecer o muito que ficou por esclarecer. É no dizer quem lhe facilitou a saída da prisão. E, sobretudo, no dizer quem lhe criou a logística necessária para entrar e permanecer na África do Sul. Mais tarde, para chegar ao Canadá. Talvez, quem o sabe, a troco de algumas revelações possa passar a ter direito a banhos de sol diários. Até lá, há o direito de admitir que estamos perante um caso por encerrar.