domingo, agosto 17, 2008

os nossos interesses são os interesses do camponês moçambicano

Desde há muito anos que se fala na perda de parte da produção agrícola pelos camponeses. Quer dizer, os camponeses produzem. E, produzem para além das suas necessidades alimentares. Para além das suas necessidades alimentares básicas imediatas. Mas, depois, não possuem nem meios nem conhecimentos para conservar por longos períodos o excesso da sua produção. Seja ela qual seja. Assim como não conseguem fazer chegar esses seus excedentes agrícolas a outras e diferentes zonas do país. Seja devido à ausência ou ao mau estado das vias de circulação. Seja por motivo da falta de meios de transporte. Seja, ainda, que para além de uns e de outros, o preço do mercado é baixo. O preço no mercado de destino não compensa, não paga, não suporta os custos da produção. Por este e, provavelmente, por outros motivos, em algumas regiões do país há produção em excesso. E, que se estraga. Em outras, poderá haver fome. Há mortes devido à fome, em certas regiões do país. O que indicia estarmos perante um processo distorcido. Se assim, produzir mais, aumentar a produção é igual a perder mais dinheiro. Em termos de matemática, a lógica do camponês é inatacável. Por estes e, provavelmente por outros motivos, em algumas regiões do país a produção agrícola pode reduzir. Estamos, ao que parece, perante realidades antagónicas. O mercado, como todos o sabemos, não é perfeito. Logo, cabe ao Estado assumir o papel de regulador. Cabe ao Estado, seja através da garantia do preço de compra ao camponês, seja através de subsídios ou de isenções possíveis, tornar o preços dos produtos agrícolas competitivos e que compensem o esforço do camponês nacional.


A perda de excedentes agrícolas nacionais, situa-se em números alarmantes. Segundo o jornal “Notícias” (13 de Agosto corrente), o país perde, anualmente, um milhão de toneladas de comida. Produzida internamente. Com muito esforço. E, por certo, muito sacrifício. Esta quantidade de comida perdida representa cerca de 40 por cento da produção total do país. E do trabalho e do esforço de cerca de 3,7 milhões de camponeses. Trata-se, como se pode verificar, de números impressionantes. Talvez, até, chocantes. Mas que sendo verdadeiros, e tudo indica que sim, nos transportam para outra realidade. Ou, se assim se preferir, para uma outra dimensão da realidade nacional. A de que o problema de Moçambique não é um problema de produção. Que o problema da eliminação da fome não assenta, unicamente, no aumento da produção agrícola. Tem outros vectores, não menos importantes. O primeiro, passa por eliminar o conceito negativo de combate à pobreza. E criar e alimentar o conceito positivo de criação de riqueza. É que todos queremos ser ricos. Pelo menos queremos, hoje, viver melhor do que vivíamos ontem. Através do trabalho honesto. O segundo, é o que de parece esgotada toda a falácia que por aí se houve em nome do camponês. Que é tempo de deixar de se falar em nome do camponês. Para dar a palavra ao camponês. Em substituição do tempo de palavra que se dá, em salas com ar condicionado, a representantes de OGN´s. A que, como todos sabemos, o camponês não tem acesso. Nem, ao que se saiba, alguma vez manifestou interesse em ter. Este dualismo, esta dualidade, implica, obrigatoriamente, uma decisão. Que pode ser dolosa para quem tem o poder e o dever de decidir. Para decidir se opta pela continuação de projectos dispersos ou pela execução de um plano nacional. Que convenha aos interesses nacionais. Tenhamos que ao discurso de ocasião, se sobrepõem os interesses nacionais de longo prazo. Aqui residem os interesses do camponês nacional. E, os nossos interesses. Porque, os nossos interesses são os interesses do camponês moçambicano.