domingo, janeiro 25, 2009

há certas mortes que vale mais esquecer do que investigar

Vivemos numa sociedade por demais violenta. Vivemos numa sociedade onde existe crime organizado. Vivemos numa sociedade onde se morre a soldo de criminosos pagos para matar. Onde, ao que tudo indica, existem criminosos profissionais. Pessoas que vivem, única e exclusivamente, de e para matar. Será, apenas, um questão de preço. Mas, vivemos, igualmente, numa sociedade onde a violência verbal é um facto. Onde a ameaça é uma realidade. Chegámos já ao ponto, extremo, de dar espaço jornalístico ao bandido, ao criminoso. Como se de pessoa de bem se trata-se. Para, imagine-se, atacar, ameaçar a Polícia. Como corporação. Não um simples agente. A Polícia. Uma Polícia que tem por missão garantir a ordem e a segurança públicas. Se desempenha bem ou mal a sua missão, é um segundo aspecto. Que não pode nem deve ser descurado. Muito menos ignorado. Agora, quando lemos em letra de imprensa ameaças de um cidadão, tido como criminoso, à Polícia, cremos poder concluir que estamos perante algo de errado. Que estamos, no mínimo, perante uma inversão ou uma crise de valores. Que se revela e que se manifesta perante uma total falta de ética e de deontologia. Gostemos ou não da comparação, ela deve ser feita. Com toda a clareza. E a comparação é que se o Estado está criminalizado e cativo do crime organizado, haverá jornais e jornalistas que caminham pelo mesmo terreno. Calmamente. Alegre e com plena consciência do papel que estão a desempenhar. Mas, e isso é que preocupa, impunemente.


Pagar para permanecer vivo e pagar para matar. Pagar para ignorar o crime ou para não investigar o crime. Trata-se de realidades que existem. Que podem existir. Talvez em paralelo. E com maior frequência do que se possa pensar. E que existem, que podem existir, na sociedade em que vivemos. No primeiro caso, poderemos estar perante uma nebulosa. Logo nada se vê nem pode ser visto. No segundo, surgem, de quando em vez, alguns aspectos visíveis. A olho nu. O último terá sido um assassinato. Pouco depois das vinte horas do último sábado. Em plena Avenida Mao Tse Tung. Com recurso a armas de fogo. E à emboscada da viatura em que seguir a vítima. A local, publicada pelo jornal “Notícias”, (edição de 19.01.09, pag. 23), é por demais lacónica. Limita-se à habitual informação da Polícia. E, como parece ser normal, para não criar conflitos nem crispação, termina com uma frase estereotipada: Diligências decorrem com vista à captura da “gang”. Quanto ao móbil do crime, nenhuma hipótese é colocada. Nenhuma hipótese foi adiantada. Quando assim, este será mais um crime esquecido. Um crime para esquecer. Um assassinato sem assassino. Dito por outras palavras, há certas mortes que vale mais esquecer do que investigar.