domingo, julho 05, 2009

uma humildade nacionalista

Em tempo de crise financeira mundial, digamos de depressão, é bom, é salutar, alguma leitura. É positivo ler o que outros escreveram sobre a crise e sobre crises. Ler, o que outros, que sabem muito mais do que nós escreveram, para, há muito, alertarem sobre erros. Que também poderemos estar a cometer. É o caso de Paul Krugman. Autor de “O regresso da economia da depressão e a crise actual”. Nesta sua obra, o Prémio Nobel da Economia de 2008, começa por nos situar na Grande Depressão da década de 1930, que classifica como uma tragédia injustificada e desnecessária. Indo por aí em diante, analisa as crises recentes, verificadas em diferentes países da América Latina e da Ásia. Aponta origens, causas, efeitos. E, também, erros nas tentativas de alterar as situações. Na sua obra didáctica, acessível mesmo a quem não seja economista, escreve Krugman (pag. 109): Acompanhem o meu raciocínio. Existem três coisas que os gestores macro-económicos pretendem para as suas economias. Querem discrição na política monetária, de forma a poderem combater as recessões e dominar a inflação. Querem taxas de câmbio estáveis de forma a que as empresas não tenham de enfrentar demasiadas incertezas. E querem manter a liberdade do comércio internacional – em especial permitir que as pessoas possam trocar dinheiro como lhes apetecer -, de forma a não se intrometerem no sector privado. O que a história do globo e da sua queda nos ensina é que os países não podem satisfazer todos os três desejos; no máximo, poderão satisfazer dois. (...). Crítico acérrimo do recurso aos fundos especiais de investimentos, o autor escreve (pag. 130), que os referidos fundos pagaram a jornalistas e editores para que estes publicassem artigos a sugerir que o dólar de Hong Kong ou o renmimbi chinês estavam prestes a ser desvalorizados. Resumindo, estavam a tentar deliberadamente provocar uma corrida à moeda.


Período houve, entre nós, em que se afirmou ser necessário saber tirar benefícios da crise financeira mundial. Agora já se diz que a crise está a afectar a nossa Balança de Pagamentos (“Notícias”, 01.07.09). Como se diz que há perdas nas reservas em divisas. O que poderá, eventualmente, ser compensado, através dos muito contestados, por Krugman, fundos especiais de investimentos. Vale a pena, para terminar, transcrever mais algumas linhas do referido livro. Do Nobel da Economia de 2008. Escreve ele (Pag. 133): Em 1787, a Imperatriz Catarina da Rússia visitou as províncias do Sul do Império. De acordo com a lenda, o seu primeiro ministro, Grigori Potemkin, seguia um dia à frente dela, instalando frontarias falsas que transformavam aldeias miseráveis e as faziam parecer vilas prósperas. Depois da passagem da soberana, desmontava as telas e ia montá-las no destino seguinte. A partir de então, a expressão “aldeia Potemkin” tem sido usada para descrever ambientes aparentemente felizes, que na realidade, são apenas fachadas, sem qualquer relação com que está por detrás delas. O tempo que corre, corre rápido. Corre veloz. Mas é um tempo que, ainda, permite evitar erros que muitos já cometeram. Evitar erros, na nossa realidade presente, e em termos de economia, implica uma atitude de humildade. Mas, convenhamos, de uma humildade nacionalista.