domingo, fevereiro 14, 2010

Avançar com os pés assentes na terra

Na sua última sessão, o Conselho de Ministros decidiu alterar a forma de pagamento da energia a pagar pelos agricultores estabelecidos em sistemas de regadio. Alterar, aqui, tem o sentido de baixar. De reduzir. De ajustar à realidade do consumo efectivo. E, não da potência instalada. Com o decreto ora aprovado, pretende o Governo incentivar a produção agrícola. O mesmo é dizer, pretende reduzir importações. Mais. Pode se ir mais além. Pode dizer-se, sem receio de erro, que existe um outro fim em vista, um outro objectivo. E, esse fim e esse objectivo consistem em criar condições para motivar ao trabalho. Para criar condições no sentido em que as energias despendidas tenham uma justa compensação. E, isto, naturalmente, porque, todos o sabemos, só o trabalho gera riqueza. Como também sabemos, que o homem não vive para trabalhar. Como nos tempos idos da escravatura. Trabalha, isso sim, para viver. E, para melhorar as suas condições de vida e da sua família. Para poder ter amanhã o que ainda não tem hoje. As estatísticas, as taxas de inflação, dados sobre o crescimento económico, são, meramente questões periféricas. Apenas questões periféricas. Que pouco ou nada têm a ver com o país real. Com o país do camponês. Com a vida do camponês. Lá. No campo. Não do camponês de quem muitos falam. Por aí. Em tudo quanto seja hotel de luxo. Mas que não conhece. Por nunca ter visitado. Na companhia de quem nunca passou uma refeição.


Hoje, são visíveis sinais de mudança. O último, é esse a que nos referimos. O de Conselho de Ministros ter decretado a redução dos custos de energia eléctrica a pagar pelos agricultores integrados em sistemas de regadio. Trata-se, certamente, de uma decisão que não saiu de seminário nem de reunião realizada em instância turística. Dessas muitas onde se come bem bebe melhor. Até cair morto. Terá resultado, permita-se-me a especulação, de observação directa e pessoal. Por parte do Primeiro-Ministro. Que, nos últimos tempos, cirandou por terras ricas mas mal aproveitadas. Em termos de produção. Como que a dizer, ou a dizer, mesmo, que podemos fazer mais e melhor. E, a afirmar, sem o dizer, que existe espaço para o Governo intervir. Que há muito espaço para o Governo poder intervir na produção de riqueza. Para além do que possam ser condicionantes ou falsas condicionantes. Dos chamados doadores. Muitos dos quais, contando com apoios internos, nunca esconderam estar contra o chamado Fundo de Desenvolvimento Local. E que não perdem a oportunidade para mostrar que estão ressentidos com o sucesso dos resultados do mesmo. Por receio e por medo de terem de aceitar que existem capacidades e espaços de manobra internos para fazer mais e melhor. Do que aquilo que são as suas imposições. Os seus modelos. Falhados e falidos. É preciso continuar a avançar com os pés assentes na terra.