domingo, agosto 01, 2010

Evitar cair numa armadilha

A ideia de fazer convergir, de fazer aglutinar povos então dominados por Portugal em uma organização, não é nova. Terá sido elaborada pelo brasileiro Gilberto Freire. Que se terá deslocado, expressamente, a Portugal para a apresentar a Salazar. O então já velho ditador terá pensado tratar-se de uma modernidade. De algo demasiado progressista para a época. Logo, se não esqueceu, fez por fazer esquecer a proposta. O que, efectivamente, aconteceu. Volvidos anos, já no tempo de Marcelo Caetano, António de Spínola surge a recuperar e apadrinhar a ideia. Com nova roupagem. Como se pode avaliar pela leitura de “Portugal e o Futuro”. Isto, já em finais do Império. Quando era previsível e inevitável o desmoronar do Império. As ideias federalistas, o federalismo defendido pelo general do monóculo não passou de um nado morto. Por fim, anos depois das independências dos territórios ocupados por Portugal, surgiu a CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Que tanto pode ter a ver com tudo o que lhe foi anterior, como pode ter a ver com nada. De verdade, surge, de quando em vez, quem insinua que o “Rei vai nu”.



Cimeiras, reuniões de especialistas, reuniões temáticas, jogos desportivos, não faltam. Multiplicam, como agora se diz, os eventos. Que fazem deslocar, que fazem movimentar, dezenas ou centenas de participantes. De vários pontos, de vários países, para um e único. Para o ponto. Para o local encontro, do evento. Há quem goste e quem não goste deste acontecer. Há quem defenda e há quem defina todos estes aconteceres com puras inutilidades. Por exemplo, o académico português Vasco Graça Moura, em entrevista à Agência “LUSA” que o Jornal “Notícias” reproduziu (edição de 27 de Julho), afirma que a CPLP é uma espécie de organização fantasma “que não serve para rigorosamente nada a não ser ocupar gente desocupada. Diz, depois, que o Instituto Internacional da Língua Portuguesa não está em funcionamento porque nenhum dos países da CPLP lhe dá dinheiro para o fazer. Para o escritor português, o IILP é uma entidade fantasma criada dentro de outra entidade fantasma. Critico do Acordo Ortográfico - e era aqui que queríamos chegar – Graça Moura tece dura crítica ao seu Governo. Devido à ausência de uma política da língua. E, afirma que o Acordo Ortográfico é um atentado criminoso contra a língua portuguesa tal como se fala em Portugal, Angola, Moçambique, na Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Vai mais longe ao dizer que É um atentado que tenta desfigurar completamente a língua e é absolutamente irresponsável da parte de quem negociou e da parte de quem o aprovou. Não aborda, como não lhe interessa nem lhe compete, a questão dos custos financeiros resultantes da assinatura do Acordo. O que deve ser considerado como questão de não menor importância. Nós por cá, por estas bandas do Índico, ainda estamos a tempo de ouvir as vozes sábias e aconselhadoras. Ainda temos tempo para evitar cair no abismo. O bom senso aconselha que se evite dar um passo em falso. Um passo que pode ser fatal. Isto é evitar cair numa armadilha.