domingo, novembro 21, 2010

O seu a seu dono

A História, seja de um país ou de um povo, nunca é um produto acabado. Definitivo. É sempre um processo. Que se altera ou pode alterar, que se modifica, que se vai completando. Há medida que, com o passar do tempo, novos factos, novas facetas vão sendo conhecidas. A partir de consecutivas e mais aprofundadas investigações. O que parece válido em relação a povos e países, o será, também, relativamente a homens. Principalmente estadistas e governantes. É assim que, em tempos recentes, um vasto conjunto de obras, de trabalhos de investigação sobre o nosso país, nos permitiu ficar a saber mais sobre nós mesmos. Trata-se de livros editados em Moçambique ou em Portugal. Da autoria de moçambicanos ou de portugueses. Em relação a alguns dos quais há quem opine tratar-se de branqueamento da história. Pode ser que sim. Como pode ser que não. Muito provavelmente, o mais acertado, o mais ajuizado, seja aceitar os novos factos, as revelações. E, partir para novas investigações. Descobrir novos factos. Contrapor.



Pela nossa história recente, passaram personagens e personalidades, que não necessitam que lhes branqueiam a imagem. Nem a memória. Devido à sua verticalidade, à sua postura moral, em vida. Devido ao seu comportamento, ao seu modo de ser e de estar. Podem alguns assim não pensar. É um direito. Acontece que, em tempos e em espaços diferentes, leio informação sobre as últimas transferências de ouro para Portugal. Antes da independência nacional. Ouro esse que constituía o pagamento de parte dos salários dos moçambicanos a trabalharem em minas da África do Sul. A última abordagem sobre o assunto, está em edição recente do jornal “Canal de Moçambique”. Num texto assinado pelo Dr. Carlos Adrião Rodrigues. Em nome da verdade, importa dizer que, no período de Transição, ao tempo em que o Dr. Soares de Melo foi Governador de Moçambique, se efectuou transferência de ouro para Portugal. Talvez a última. Mas efectuou. Sobre a matéria, está publicada uma reportagem na extinta revista “Tempo”. Amplamente documentada com fotos do falecido Ricardo Rangel e texto da minha autoria. Que prova a saída do ouro da casa forte do então BNU e a sua colocação em contentores no terminal de carga do aeroporto. Antes de ser embarcado e seguir viagem para Portugal em avião da TAP. Para a elaboração da referida reportagem, procurei recolher, entre outras, a opinião do Dr. Mário da Graça Machungo. Recentemente regressado de Portugal e nesse então ao serviço do também já extinto Banco de Fomento Nacional. A sua delicada recusa em fazer qualquer comentário sobre o assunto, terá impedido enriquecer o texto. Mas, não impediu a sua publicação. Para os vindouros, importa dizer o seu a seu dono.