domingo, novembro 07, 2010

Nós temos o direito de poder rir

Não é novo nem é recente o interesse do Brasil por Moçambique. Ou interesses brasileiros em relação a Moçambique. Têm, no mínimo, mais de meio século. Virão, pois da época colonial. Dos tempos de António de Oliveira Salazar. Nessa altura, nesse tempo, ao que parece, tratava-se, apenas de interesses comerciais. O que estava em jogo, o que se pretendia, era acelerar e aumentar o volume das trocas comerciais. Apenas isso. Daí o ter sido prevista a construção de um entreposto comercial brasileiro. Em Maputo. Muito precisamente em terrenos localizados próximo da Sonefe. E que estariam registados em nome de António Almeida Santos. A queda do regime colonial português fez anular esse projecto. Fez abortar o projecto. Mas, não terá feito o Brasil esquecer o seu interesse por Moçambique. Que, progressivamente, se terão transformado em interesses em Moçambique. Como hoje parece e é evidente.


Aquando da sua primeira visita ao nosso país, o presidente do Brasil trouxe na sua bagagem uma mala cheia de promessas. Entre as quais a da construção de uma fábrica de anti-retrovirais. Veio depois, mais tarde, pela segunda vez, e disse, novamente que. Falou. Apenas falou. Sendo que de fábrica havia nada. A prometida fábrica passara a ser simples processo de empacotamento de comprimidos. Para vários e variados fins. Anuncia-se, agora, a terceira deslocação de Lula da Silva a Moçambique. Acompanhado da sua eleita sucessora. E, o descendente dos colonos portugueses, que aclamaram e proclamaram Pedro II de Portugal como Pedro I do Brasil, volta. Terceira e última vez. Como presidente, obviamente. E sem ter a prometida fábrica para inaugurar. Diz-se (“Notícias de 2 do corrente), que irá inaugurar a primeira fase dos projectos da fábrica de anti-retrovirais e do programa pró-savana para o desenvolvimento agrícola do centro e norte do país (...). De resto, como todos sabemos, os pobres não têm dinheiro para comprar medicamentos. Daí o não se justificar o investimento numa fábrica para a sua produção. Como, de facto, não existe nenhuma em toda a África. O que dá, no que vale a pena investir é na exploração de carvão, de gás e de petróleo. Vá, como faz parte do seu programa, a Tete. Mas, depois, regresse ao Brasil. E volte rapidinho. É, que, antes de ter chegado já estamos com saudades do seu regresso. E, já agora faça mais uma promessa. E, esta até pode cumprir. Prometa que nos vai trazer o Tiririca. É, que, nós, por cá, já estamos a ficar cansados com tantas televisões sustentadas por igrejas brasileiras. Milagreiras. Que só transmitem curas. Que só nos dão imagens de mazelas e de desgraças humanas. Afinal curáveis. Ao vivo e em directo. Com um simples gesto, com um mero sinal. Tiririca pode não poder fazer melhor. Nem ir mais além. Mas tem, isso sim, o poder de nos fazer rir. E, nós precisamos de rir. Nós temos o direito de poder rir.