domingo, outubro 31, 2010

Assim haja vontade

Desde há muitos anos que o sector da agricultura se vem mostrando como dos mais problemáticos. Dos ineficientes, ineficazes. Porquê, é a questão que pode e deve ser colocada. Recorde-se que, ainda recentemente, o primeiro-ministro visitou regadios. Existentes um pouco por todo o país. Onde, localmente, de forma geral, ao que foi noticiado, terá verificado o seu fraco aproveitamento. O mesmo será dizer que se nesses locais não se produz ou produz pouco, o motivo não está na falta de água. Estará, sim, na sua não utilização, no seu não aproveitamento conveniente e potencial. Na falta de capacidade, de vontade ou de conhecimentos para a transformar em elemento determinante na produção agrária. Já mais recentemente (25 do corrente), o jornal “Notícias” divulgou o resultado de uma auditoria realizada ao sector agrário. E, titulava, em primeira página, com grande destaque, “Falta estratégia para a irrigação”. E acrescentava que a referida auditoria, encomendada pela Inspecção-Geral das Finanças, “sugere acção integrada e sustentável”. Segundo a local, O sector de irrigação no país precisa urgentemente de uma Política e Estratégia Nacional por forma a orientar as iniciativas visando o aumento da produção e produtividade (...). Pode ler-se, logo a seguir, que Segundo constatação da auditoria, a planificação do subsector de irrigação no país é feita de forma desanexada do objectivo final, que é o aumento da produção e da produtividade. De igual modo, não existem no sector pacotes tecnológicos específicos e disponíveis localmente para o fácil acesso dos beneficiários. E, por aí em diante, muito mais se diz.


Logo no dia seguinte, o mesmo diário reportava sobre o lançamento da próxima campanha agrícola. Que teve lugar na província do Inhambane, com a presença do Chefe do Estado. E titulava “Muita comida nas mãos dos camponeses em I’bane”. Como que a justificar o título, podia ler-se logo a seguir que O Presidente da República disse que a mandioca de Inharrime, tão boa e saborosa para o pequeno-almoço, o maheu feito a partir da casca de banana, bem como o sumo de caju, entre outros derivados de recursos produzidos em Inhambane, tudo começa e termina com os camponeses. É por isso que alguns pensam que o nosso país continua muito pobre, porque o que se faz não sai ao mercado, não é encontrado nos centros comerciais. A ideia, o conceito, a filosofia, parecem claras como água. De verdade, alguns desses produtos, ou similares, poderão estar a ser vendidos nas bermas nas estradas. Não só da província de Inhambane. Também em outras. Agora, a questão de fundo, a questão que fica por saber é porque não conseguem ultrapassar as portas de centros comerciais e de mercearias. Cujas prateleiras estão carregadas de produtos importados. Iguais. Muitas das vezes fora de prazo e embalados em latas já dominadas pela ferrugem ou opadas. De verdade, temos institutos, vários, com reconhecido mérito internacional. Em todas estas diferentes áreas. Cuja actuação coordenada parece pouco visível no terreno, na prática, para alcançar de um objectivo comum. O que será possível. Tudo é possível. Assim haja vontade.