domingo, outubro 17, 2010

Dois governos

Atenhamo-nos em algumas questões que podem parecer menores. Menores no sentido de sem importância. De sem ou de menor importância. Mas que o não são tanto assim. Por fazerem parte da nossa vida, do nosso quotidiano. Por nos condicionarem, por afectarem o nosso bolso ou o nosso estômago. Então, a primeira dessas questões é referente ao fabrico do pão. Que, ao que tudo indica, pode vir a ser cozido com combustíveis alternativos. Mais baratos do que os utilizados actualmente, mais económicos. Bastou promover o diálogo e reunir vontades para provar que o cenário que se apresentava não era tão negro como alguns pretendiam. Depois, temos a questão do peso do mesmo pão. Que, tal como tem vindo a ser colocada, não passa de mera questão académica. E que tende em transformar-se num diálogo de surdos. Parece pacífico e lógico que o deve e pode ser controlado é o peso da massa à entrada do forno. Nunca o peso do produto final. Logo, teimar neste posicionamento não passa de atitude demagógica e populista. Como o é, como foi, ter-se visto um ministro, um já ex-ministro, a desempenhar a missão de fiscal. Digamos, para abreviar a prosa, que ministro é ministro e fiscal é fiscal. Ou seja, como diz o ditado, cada macaco no seu galho. Ainda sobre pesos e balanças, a TVM apresentou, no passado dia 13, cerca das 10 horas, um programa ou uma rubrica a que chamou “Tribuna do Consumidor”. Oportuno o tema do roubo na pesagem dos mais diversos produtos, o assunto deveria ter sido aprofundado. Salvo melhor entendimento, deveria ter ser explicado ao consumidor como pode verificar se uma dessas balanças redondas está ou não viciada. Intencionalmente. O que é tão simples como verificar quanto marca a balança antes de ser carregada. E se possui ou não o parafuso regulador. Na maioria dos casos não tem. Se queremos trabalho e informação útil, há que começar por dar ao consumidor as adequadas e necessárias ferramentas para se proteger. Contra os que querem enriquecer através do roubo.


Continuemos a dissecar sobre questões que, parecendo menores, nos afectam o bolso e o estômago. Algumas das quais se assemelham a barbaridades. Ou resultantes de oportunismo primário. Talvez da convicção, errada, que todos os governados passam, dia e noite, a dormir. De que quem governa sabe tudo e de quem é governado sabe nada. Esquecendo, ou tentando fazer esquecer, que os governantes mudam e podem ser mudados. Mesmo contra a sua vontade. Já o povo não. A vontade do povo pode mudar. Mas, convenhamos, o povo não pode ser mudado. Isto, estas breves linhas, para adiantar coisa simples. Para dizer que, o governo, para atender à vontade e ao manifesto popular, suspendeu o aumento do custo de alguns bens e serviços. Não de todos. Como se pode verificar. É o caso, por exemplo da chamada taxa de limpeza. Que passou de 55 para 80 meticais por mês. Em termos monetários, pode parecer um aumento insignificante. Em termos percentuais é duma magnitude sem qualificativo. Com uma agravante. É que o cliente da EDM não pode nem tem meios para reclamar sobre o tal aumento. E, caso não pague a absurda e ilegitima taxa de limpeza, fica sem energia eléctrica. Seja, cortam-lhe a energia eléctrica. Sem qualquer possibilidade de contestação ou de defesa. O que pode levar a ter de concluir que estamos perante uma situação, no mínimo, macabra. Que pode estar a apontar, que pode querer sugerir que estamos perante dois governos.