domingo, outubro 10, 2010

Haverá formas outras de combater a pobreza

Ainda estamos todos recordados. Aconteceu passam poucos meses. Estamos a falar das longas filas de veículos que se formaram junto aos centros de inspecção. Com todos os inconvenientes e prejuízos daí resultantes. Para os respectivos proprietários. Depois, foi a alteração, o aumento do tempo limite para serem realizadas as inspecções. Foi o dar o dito por não dito. Foi todo um jogo de palavras nada abonatório, nada elegante. Para quem teve que recuar. Para quem teve que ceder à realidade dos factos, à pressão pública, aos protestos. Agora, no momento presente, o cidadão comum está confrontado com situação idêntica. Digamos, o cidadão mais pobre. O motivo é a obrigatoriedade de ter de registar o seu telefone pré-pago. Num espaço de tempo demasiado curto. Comprovadamente incompatível com o volume de registos a realizar por cada uma das operadoras. E, com os meios técnicos disponíveis. Ou possíveis de reunir no prazo concedido para o início do processo. Aí temos, de novo, nervosismo, protestos, agitação. Mas, mais. E, este é um aspecto importante a registar. Temos, também, muitos milhares de horas de trabalho perdidas. De faltas às aulas por parte de estudantes. Que se juntam, amontoam, fazem fila junto aos poucos locais possíveis de registo. É que, sobre eles, sobre todos eles, pesa a ameaça e a coacção de que se não efectuarem o registo no prazo determinado serão punidos. Serão castigados com o bloqueamento dos seus aparelhos. Sem qualquer outro comentário, sem qualquer consideração de ordem subjectiva, salientemos um facto. O de num espaço de tempo reduzido o ministério dos Transportes e Comunicações, ou organismos por si tutelados, ter desorganizado, completamente, a vida do cidadão comum. Ou, se assim de preferir, de ter organizado a desorganização. Convenhamos que esta não é a forma mais correcta de combate à pobreza.


Alguns, poucos, argumentos foram tornados públicos para justificar a exigência do registo dos telefones pré-pagos. Na maioria, falaciosos. Na maioria que não suportam qualquer contestação. Quem tem telefone móvel, o que nem é o meu caso, podia saber, pode ter acesso às mensagens sobre o que estava a ser preparado para acontecer a 1 e 2 do mês passado. Ao que sei, as referidas mensagens não eram secretas nem codificadas. Foram emitidas e recebidas livremente. Logo, se ninguém agiu para evitar o que aconteceu, não terá sido por falta de conhecimento do que estava a ser preparado. Terá sido por um outro qualquer motivo. Que não vem ao caso saber. De resto, circularam as mensagens sem registo do pré-pago como irão circular depois de o mesmo ser concluído. Não é o registo que, em momento algum, irá travar a sua circulação. Saber de que número de telefone partiu a primeira mensagem e ficar a conhecer o seu autor, pouco irá revolver. Se o objectivo dessa mensagem já tiver sido atingido. Quer-se dizer, saber-se quem incitou a quê ou quem provocou o quê, passa a ser objectivamente inútil. Não mais do que um mero exercício de caça às bruxas. Por certo, haverá formas outras de combater a pobreza.