domingo, abril 03, 2011

O primeiro tiro saiu pela culatra

Ler jornais devia significar ficar informado. Ficar mais bem informado do que quem não lê. Mas, nem sempre assim acontece. Por vezes, não raras, sucede o inverso. Sucede o contrário. Sucede que a notícia que nos é dada a ler, desinforma. Baralha e confunde o leitor. O que pode resultar de deficiente trabalho por parte de quem escreveu. Como também por lhe ter sido fornecida informação e dados menos claros. Digamos, confusa ou parcial. Não abrangente. Não cobrindo todos os campos e todas as áreas que era suposto dever cobrir. Ora, partamos do princípio que a informação serve e favorece sempre quem a dá, quem a liberta. Sendo assim - e ainda está por provar que não seja sempre assim -, estamos diante de notícia que não responde aos desejos, aos anseios ou aos interesses de quem lê. Sem querer misturar assuntos, questões, é como o que sucede bastas e frequentes vezes. Em querer atribuir ao jornalista o dever de respeitar o “segredo de justiça”. O que parece óbvio mas que nem sempre é aceite, é que o “segredo de justiça” constitui matéria que apenas diz respeito aos funcionários do Aparelho da Justiça. Ao jornalista compete respeitar outras regras e outras normas. A começar pelo direito à Informação. Se luta ou não por tal, é uma outra que questão.


Não nos dispersemos, não percamos de vista a questão central. A título de exemplo, deixemos uma notícia publicada na última edição do “Magazine Independente”. Informa o semanário que, em 2010, “EDM atingiu seis mil milhões de meticais em lucros”. E, logo a seguir diz que “A Electricidade de Moçambique (EDM) atingiu em 2010, cerca de seis mil milhões de meticais de lucros totais, não obstante a crise económica e financeira internacional. Este crescimento situou-se na ordem dos 13 por cento se comparados com os lucros obtidos em 2009.” De seguida, o jornal dá espaço ao PCA da EDM para apresentar dados que pretendem justificar o título. Dados e percentagens que, a nós simples consumidores de energia de baixa tensão, nada dizem, em nada esclarecem. Depois, e, em aparente contradição com o escrito anteriormente, acrescenta: “As receitas registadas no ano passado estiveram perto dos seis mil milhões de meticais (...).”. Entre o título da notícia, o parágrafo de abertura e o anteriormente citado parece haver uma contradição gritante. E há. É que num momento fala-se em lucro e noutro em receita. O que não é exactamente a mesma coisa. Pelo contrário, são coisas completamente diferentes. E que podem permitir o levantar de muitas outras questões. Questões que não são marginais nem periféricas. É, isso sim, centrais. Uma delas, é sobre a imposição do sistema pré-pago. Outra, é sobre os aumentos do preço da energia a quem utiliza este sistema. Sempre e quando a quem fornece a energia lhe apetece porque tem o poder arbitrário de proceder ao seu corte. Estranho, no meio de tudo isto, por entre toda esta vozearia, perante as tentativas para demonstrar tanto crescimento, tanta melhoria, Tanto lucro, sejam sempre os mesmos a pagar a crise. E a sofrer os aumentos nos preços da energia. Pode ser que não. Pode ser que esta tentativa de mostrar serviço ao patrão seja honesta. Como pode ser resultado de vaidade ou de ingenuidade. Tudo, afinal, fraquezas humanas. A realidade e a experiência demonstram que, em muitos casos como o presente, o primeiro tiro saiu pela culatra.