domingo, fevereiro 19, 2012

Esperar para ver

A polémica está instalada. Em Portugal. E em torno do Acordo Ortográfico (AO). Tema que tem vindo a merecer destaque em vários jornais portugueses, nomeadamente”Correio da Manhã”, “Público” e “Expresso” Na semana passada, após ter sido empossado como presidente do Centro Cultural de Belém (CCB), Vasco Graça Moura “ordenou aos serviços internos que não apliquem mais o Acordo Ortográfico”. A notícia, que tem como título “Vasco Graça Moura acaba com Acordo Ortográfico no CCB”, é do semanário referido, na sua edição electrónica diária (3/2). Que está a citar o último dos citados matutinos. Acrescenta que a “medida contou com o apoio da nova administração do CCB, que a aprovou por unanimidade depois de apreciar um extenso documento preparado por Vasco Graça Moura (...) no qual argumenta que ‘o Acordo Ortográfico não está nem pode estar em vigor’.Em causa está o facto de Angola e Moçambique não terem ainda ratificado o acordo”. Daquela antiga colónia portuguesa do Atlântico, também surge voz discordante. Na sua edição do passado dia 11 do corrente (página 11), o “Notícias” titula: “Jornal de Angola” feroz com o Acordo Ortográfico. Logo a seguir, escreve: “O “Jornal de Angola”, principal jornal daquele país, publicou esta semana um editorial dedicado ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, ao qual tece duras críticas, defendendo que “há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios, por mais respeitáveis que sejam”, pondo em causa futuras negociações. No dia seguinte, este semanário também se referia ao assunto na sua secção “Bula – Bula”, sob o título Acordo Ortográfico em maus lençóis”. Com o título “O desacordo ortográfico português” o jornal “Notícias”, edição da passada quinta-feira, volta ao tema. Publica um extenso artigo, adaptado do jornal português “Público”, no qual começa por destacar “Em Portugal mais uma voz se opõe às novas regras da escrita da sua língua, por serem ‘uma imposição’. “. Logo a seguir, pode ler-se que “Ivo Miguel Barroso, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, considera que utilizar a língua portuguesa segundo as novas normas do Acordo Ortográfico é ‘inconstitucional’ e apresentou queixa na Provedoria de Justiça.”. Para além de apresentar vários outros argumentos em favor da sua tese, Ivo Barroso salientou que “A língua é regulada predominantemente pelo costume. Uma língua não se muda por decreto. Tem de se ter em conta a vontade do povo português e os pareceres técnico-científicos, que são, na sua grande maioria, contrários ao Acordo Ortográfico”. Aqui, importa abrir um breve parêntesis. Para dizer que também se tem de ter em conta a vontade dos povos que foram antigas colónias de Portugal. O antigamente faz parte do passado. Ainda de acordo com o texto que temos vindo a citar, para Barroso, o actual AO é “essencialmente uma imposição, não uma codificação de normas costumeiras (...) ”. Já noutro plano, mas sempre dentro de uma perspectiva critica, Ivo Miguel Cardoso diz que “o Acordo Ortográfico encontra-se mal redigido, com contradições várias (...). E nós, todos nós, o que pensamos sobre esta questão. Ao que parece, até ao momento, publicamente nada. A pós o regresso da primeira delegação moçambicana que se deslocou ao Brasil para discutir e negociar o Acordo Ortográfico, tive oportunidade de conversar com um dos negociadores. E de lhe colocar algumas questões, algumas dúvidas. Que hoje, à distância de muitos anos, se apresentam como lógicas e reais. Realistas. Como o ilustram e provam as vozes dos ilustres portugueses que se começam a fazer-se ouvir. Tanto sobre a legalidade na sua aplicação, lá, como sobre a legitimidade na sua aplicação na globalidade. A todos os países que adoptaram a língua portuguesa como língua oficial. Ou se não. Se esta questão do AO é mais do que um negócio entre brasileiros e portugueses e brasileiros. E não passa de uma aberração. Ou de um nado morto. É necessário ter paciência e esperar para ver.