domingo, fevereiro 05, 2012

Os raptos merecem melhor investigação

Aconteceu no espaço de poucas semanas. Por duas vezes. Estamos a elaborar sobre raptos de empresários. Ou de hipotéticos raptos. A cujos familiares terão sido exigidas elevadas quantias em dinheiro. Como forma de resgate. Como pagamento para serem restituídos à liberdade. Sobre o assunto, sobre o tema de “Raptos na capital”, o jornal “Notícias”, na sua edição do passado dia 2 (página 3), titulava: “Polícia sem pistas pede colaboração”. E, logo a seguir, escrevia: “A Polícia ainda não tem pistas que conduzam à neutralização da quadrilha que na segunda-feira terá sequestrado dois empresários, tio e sobrinho no Cemitério de Lhanguene”. Acrescenta a local que “A corporação indica que sem a cooperação dos familiares das vítimas dificilmente pode avançar nas investigações”. Logo a seguir, pode ler-se que “(...) até ontem as autoridades não tinham nenhuma informação sobre o alegado sequestro dos empresários com interesses na Vidreira de Moçambique, localizada no município da Matola; Hotel Escola Andalucia, na capital; bem como no Hotel Embaixador, na cidade da Beira, onde residem.”. Ainda segundo o porta-voz da PRM na capital do país, “Estamos perante um fenómeno estranho em que as pessoas não cooperam nem tão pouco com a Polícia. Reconhecemos que esses raptos ocorrem sob ameaças de morte, mas as famílias devem buscar auxílio junto das autoridades, não devem avançar sozinhas, apelou.”. Aqui, importa esclarecer a razão e o motivo do apelo. É que, tanto quanto foi tornado público em ambos os casos, os familiares dos raptados não terão apresentado, oficialmente, queixa à Polícia. Esta “onda de sequestros de empresários de origem asiática” está já a causar preocupação na Comunidade Islâmica. Muito provavelmente a situação não será para menos. Sejam quais sejam os reais contornos do fenómeno, o mesmo aparenta ser novo. Também estranho. Em primeiro lugar por os familiares dos raptados, alegadamente, não comunicarem, oficialmente, os raptos à Polícia. Nem a esta prestarem informação útil e necessária à investigação. Em segundo lugar por preferirem dialogar e negociar directamente com os raptores. Aparentemente, até aqui, com sucesso. Convenhamos que o campo da investigação é vasto. Vastíssimo. E que são de explorar todas as hipóteses possíveis e imaginárias. Inclusive a de podermos estar perante casos simulados de raptos. Com fins que não se conformem com a legalidade. É neste sentido e nesta lógica que entendemos e interpretamos as declarações claras e cristalinas do Comandante – Geral da Polícia. Prestadas a “um semanário da praça” e que segundo a referida edição do “Notícias”, “parte dos sequestros com exigências de balúrdios de dinheiro de resgate, reportado na Imprensa, pode ser simulação simplesmente para retirada ilegal de divisas para o estrangeiro.” Esperemos que não. Façamos votos para que assim não esteja a acontecer. Mas, em termos de dúvida metódica, admitamos que assim possa estar a acontecer. E que vá continuar a acontecer. Por muito e longo tempo. Para que tal e tal possa continuar a acontecer, se necessário for continuar a acontecer, todos sabemos que não faltará dinheiro. De resto, somos de um país onde a única coisa que parece não faltar é o dinheiro. A avaliar pelas notícias dos milhões que todos os dias nos dizem estar a ser investidos. Aqui e além. Por hoje e por falta de mais espaço para elaborar, parece não devermos ir além da questão dos raptos. Sem dúvida, os raptos merecem melhor investigação.