domingo, julho 15, 2012

As cadelas apressadas têm filhos cegos

Já está assegurado o financiamento para a construção da ponte que irá ligar Maputo à Catembe. Em grande parte virá da China. A troco de quê é que já parece menos claro. A local, que mereceu honras de primeira página no jornal “Notícias” (edição da passada quinta-feira), elucida: Para o efeito, foi assinado ontem, na China, um acordo entre o Governo moçambicano e a Exim Bank daquele país asiático para a concessão de 681.6 milhões de dólares norte-americanos, correspondentes a 85 por cento do custo total da obra. Ainda segundo o matutino de Maputo, A construção da ponte entre Maputo e Catembe poderá dinamizar o desenvolvimento da zona de Matutuine, um dos distritos mais pobres da província de Maputo, para além de minorar o sofrimento da população que pretenda atravessar para uma das duas margens da baía de Maputo. Ditas as coisas assim, em letra de jornal, tudo pode parecer maravilha, ideal, perfeito. Na prática, na realidade, poderá não o vir a ser tanto. Acontece, já, haver quem pense diferente. Ou, na melhor das hipóteses coloque as suas dúvidas. Avance com outras hipóteses de solução.Com outras alternativas de solução para o actual problema da dificultosa e morosa travessia. Há quem se pergunte sobre que futuros congestionamentos irão resultar com a construção da ponte. Na zona da Malanga e da já congestionada avenida 24 de Julho. E, sobre as alternativas já pensadas para evitar este futuro novo problema. Com ou sem razão, mas com inteira lógica, há quem defende solução que parece mais realista. E menos cara, menos espectacular, mais moçambicana, mais de acordo com as disponibilidades dos dinheiros locais. Consiste, ao que se diz por aí, ao que é voz corrente, na criação de um eficiente e eficaz sistema de travessia pelo mar. Com a aquisição de novas, modernas e rápidas embarcações. Que venham a permitir a travessia entre os dois lados da Baía. De pessoas, mercadorias e veículos. Com comodidade e segurança. Controversa, tanto ou mais do que a já financiada construção da ponte Maputo-Catembe, parece ser, e é, a ligação rodoviária Maputo-Marracuene. Via Costa do Sol. Ouvem-se muitas e sentidas vozes contra. Também aqui, se apontam alternativas. Via Mahotas. Ou outras. Que ninguém parece saber ou querer ouvir. A Marginal da Costa do Sol não é só património da cidade de Maputo. É património nacional, é património moçambicano. Tanto a via como o restaurante que se apoderou do seu nome. E que sempre foi e continua a saber ser ponto de referência internacional. Pela sua localização, pela qualidade seu serviço, dos seus mariscos, das suas galinhas à cafreal, das suas carnes grelhadas, das suas amêijoas ao natural. E pelo muito mais que por lá de pode encontrar no cardápio. O prestígio da Marginal, a referência internacional à Marginal de Maputo antecede, em muitos anos, a actual e incompetente gestão da capital do país. Fica por saber pouco mais. E, o que fica por saber é o até quando. E, este até quando, pode significar termos de regressar aos tempos de Ngugunhana. Não obviamente aos seus métodos e aos seus processos de governação. Mas aos seus domínios territoriais. O que poderia fazer colocar a capital do país em terras de Marracuene. E, logo, em termos de lógica, fazer desaparecer do mapa mundial a cidade de Maputo. Se assim, por hipótese, lá se iria Pérola o Índico. Ficaria apenas Marracuene. Mas há tempo, há muito tempo para pensar. E, pensar mais, pensar melhor. Reflectir. Para fazer coisa boa e bem feita. Se não assim, resta recorrer à voz do povo. Quando diz que as cadelas apressadas têm filhos cegos.