domingo, dezembro 30, 2012

Arquive-o na gaveta do esquecimento

Do Brasil também nos chegam notícias boas. Pelo menos duas, nos últimos dias do ano de 2012. Uma (“Domingo”, edição anterior, página 34), diz que “Dilma promete mais em 2013”. Começa por informar o semanário que A Presidente da República Federativa do Brasil, Dilma Roussef, promete que o ano de 2013 será melhor para os brasileiros, mercê dos pacotes de intervenção e de investimentos em urso que poderá melhorar a vida das populações e incrementar o crescimento económico daquele país sul-americano. Acrescenta a local que Falando, semana passada, num discurso de onze minutos a toda a nação federal por ocasião do natal e do fim do ano, Dilma Roussef fez uma avaliação positiva de ano de 2012 tendo listado entre os principais aspectos positivos desencadeados pelo seu executivo a continuidade do programa nacional de expansão do emprego para os brasileiros Logo a seguir, a local esclarece que Com efeito, até ao passado mês de Outubro o executivo liderado pela Presidente Dilma Roussef tinha conseguido criar 1.77 novos postos de emprego – 4 milhões desde 2011 – a compra de casa própria para um milhão de famílias (...), e o que mais se pode ler por aí em diante. Afinal, está tudo a melhorar. Está tudo bem. Lá como cá. A outra, a segunda boa notícia, estando fora de Maputo, ouvia através da RM. Segundo esta estação radiofónica, a Presidente brasileira decidiu prorrogar o prazo para a entrada em vigor do novo Acordo Ortográfico (AO) até 2016. Uma decisão tomada, ao que percebi, depois de ouvidos, os mais competentes e os mais sábios do seu país nesta matéria. Esta, para mim, uma das melhores notícias de 2912. Dizer e repetir, que sempre fui contra o Acordo Ortográfico na versão imposta pelo Brasil. Que resulta mais de negociatas por debaixo da mesa do que de uma discussão transparente. Séria e honesta. Com base científica. Dizer também, repetir, que uma língua não tem proprietários. Não tem donos. Tem utentes, tem utilizadores. E que é direito legítimo dos utentes e dos utilizadores, dos falantes, utilizarem e adaptarem a língua às suas realidades e às suas necessidades. E às sua conveniência. Moçambique adoptou a língua portuguesa mo língua oficial. E como instrumento de unidade nacional. O Acordo Ortográfico, tal como se apresenta, é produto de complexo de inferioridade. É mais uma imposição do que um acordo. De recordar e também repetir, para os menos atentos, que as independências de todas as colónias do sul das Américas, à excepção do Haiti, foram declaradas por descendentes de colonos. Por filhos de colonos, herdeiros da mentalidade e dos métodos opressivos e repressivos de seus progenitores. De que Luta da Silva não passa de um exemplar. Certamente que não único. E que por aqui, nestas terras do Índico, alguém já chamou, e muito bem, de “saloios”. Em África, e parece necessário perceber e entender isso, a realidade é diferente. As independências foram declaradas ou assumidas pelas elites nativas. Independentemente do seu pensamento, da sua ideologia, da sua forma de ser e de estar. Da sua forma de governar. A actual Presidente do Brasil parece ter entendido e percebido, com relativa facilidade. Ou esta diferença de realidades. Já suficientemente estudada por especialistas na matéria. Bem-haja senhora Presidente do Brasil pela sua decisão de ter prorrogado a entrada em vigor do Acordo Ortográfico até 2016. Um brinde pelo seu realismo e pela sua lucidez. Pela sua coragem de não se assumir como colonialista. E, já agora, em defesa da sua lucidez histórica envie, definitivamente o Acordo Ortográfico para onde ele deve repousar para a eternidade. Arquive-o na gaveta do esquecimento.