segunda-feira, janeiro 24, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 16 de Janeiro, 2005

antes e depois

Luís David


O poder é para ser exercido


A campanha eleitoral, que antecedeu as últimas eleições, terá sido um período de grande pressão sobre vários órgãos de Informação. Principalmente os de prestação de serviço público. Sempre foi, mais ou menos assim. Cada um contesta e reclama sobre o espaço ou o tempo que lhe foi concedido. Cada outro, protesta por ao outro ter sido concedido mais espaço e mais tempo do que a si. Na hora de balanço, na hora de fazer o balanço dos resultados eleitorais, parece ser da mais elementar honestidade perguntar quantas reuniões públicas, quantos quilómetros por estrada e por ar percorreu cada um. Para, depois, em função destes dados, em função do que foi actividade política pública, averiguar se houve ou não desequilíbrio, favoritismo em termos de tratamento informativo. Pode ser que sim, como pode ser que não. O que parece realidade é que, hoje, poucas semanas depois das eleições, a Informação, no geral, terá voltado a guiar-se pela sua agenda editorial. Sem pressões.


Para fazer, ao que parece, o seu balanço dos resultados eleitorais, a RENAMO realizou, esta semana, o seu Conselho Nacional, na cidade da Beira. Terá sido, ao que os relatos indicam, uma reunião pacífica. Mas, a questão está em que mesmo quando os políticos parecem tomar e assumir posições ditas moderadas e ponderadas, há quem não se conforme com tal posicionamento. Poderá haver quem pretenda criar a ilusão do líder todo poderoso, do líder que detendo todo o poder, cede, entrega e abdica de exercer o poder por uma causa que não explica. Ou explica mal. Por uma causa, pela qual tendo lutado, agora abdica. De forma santa e beatífica. Ora, quando o “Zambeze”, na sua última edição, titula, a toda a largura da página dois, que “Dhlakama recusa ceder à pressão da ala dura para tomar o poder pela força das armas”, não está a transmitir a imagem de um vencedor mas, sim, de um vencido. De um vencido nas urnas e de um vencido no interior do seu partido. Porque, claramente, neste momento, podendo a RENAMO ter capacidade para praticar actos de terrorismo em diferentes pontos do país, não possui qualquer capacidade para tomar o poder pela força das armas. Sequer, os seus apoiantes estrangeiros lhe iriam permitir tal diatribe, tal veleidade. Ninguém está interessado numa guerra civil nem numa guerra de secessão. Ninguém acredita em federalismo. E, cada um tem, efectivamente, o poder que quem. E o poder que cada um tem pode ser, e talvez seja, bem diferente daquele que uns pretendem e outros dizem ter. O poder não se divide. O poder não é para ser divido. O poder é para ser exercido.