segunda-feira, janeiro 24, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 23 de Janeiro, 2005

antes e depois

Luís David


há muitas outras dúvidas por esclarecer


Cada dia que passa, apresentam-se como mais dramáticos os contornos da tragédia que atingiu diferentes países banhados pelo Oceano Índico. Muito provavelmente, jamais será conhecido o número exacto de mortos. Mas, para além do número, para além dos números, ficará na memória de todos o drama, a dor e o luto. O sofrimento humano dos sobreviventes, a memória que, por certo e para todo o sempre, irão guardar da tragédia. De uma tragédia que tendo tido, até ao momento, uma explicação científica aceitável bem pode não estar a responder a muitas dúvidas. Pode, poderá, até estar a esconder algumas verdades. Como aconteceu o movimento das placas no fundos dos mares, já todos sabemos. O que não sabemos, o que não conhecemos, o que ainda ninguém explicou foi como e porquê ocorreu esse movimento, essa deslocação. Sabemos, sabem os cientistas da área, muito sobre o El Nino e a El Nina. Conhecem as origens, ou dizem conhecer, do fenómeno e como e quando ele se manifesta. Os alertas, neste campo, parece m ser atempados. As suas consequências previsíveis. Sabemos, também, o que homem está a exigir da Natureza mais do que ela pode dar, mais do que ela quer dar. Depois, depois dos estragos humanos sobre a natureza, há muito quem apareça como seu defensor. Pode ser tarde. Pode ser demasiado tarde.


O maremoto que vitimou mais de centena e meia de milhar de pessoas em diferentes países banhados pelo Índico, poderá ter sido um fenómeno natural. Mas, também poderá não ter sido. As explicações públicas sobre o fenómeno estão longe de ser convincente. Muito longe, mesmo. Talvez demorem décadas a chegar. Poderá acontecer que nunca cheguem. Recordam-se os mais velhos que no início dos anos 60 um terrível tremor de terra destruiu por completo a cidade de Agadir, no norte de África. Causando dezenas de milhar de mortos. Muitos, mas muitos, anos depois foi admitida a hipótese de a tragédia poder ter sido provocada por uma explosão nuclear no Deserto de Nevada, nos Estados Unidos. Estudos mais aturados e cuidados revelaram, posteriormente, a existência de uma fenda subterrânea que, passando por terra e mar, tinha como ponto mais frágil a cidade destruída. Mais recentemente, já no início dos anos 70, foi registado na estação moçambicana de Changalane, um abalo sísmico de fraca intensidade. Que não terá provocado danos materiais nem humanos. O Dr. Pepe, ao tempo director do então Serviço Meteorológico de Moçambique, admitia a hipótese de o fenómeno poder ter sido originado por uma explosão nuclear feita pela África do Sul, algures no Índico. Ao largo da costa comum, em ponto indeterminado, mas que era possível provar, no tempo, ter acontecido. Quer dizer, que a explosão nuclear foi feita numa determinada data, não existiam dúvidas. As dúvidas que existiam e que, muito provavelmente, nunca foram esclarecidas, nem serão, é se esse ensaio nuclear foi ou não motivo do registo em Changalane. Como esta, há muitas outras dúvidas por esclarecer.