sábado, maio 27, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique jo Jornal Domingo de Maio 14, 2006


antes e depois

Luís David


informações evasivas


Parece confirmado que Moçambique é um corredor de droga. Que há droga que entra e que sai, que passa, que circula pelo território nacional. Indo e vindo das mais diversas partes do mundo. Transportada por barco ou por avião. Muito possivelmente, também por terra. Confirmado pode estar, também, que nunca se saberá quem é o verdadeiro dono do produto. Esta semana, as Alfândegas apreenderam mais uma tonelada de droga. Que entrara no país, desta vez, através do Porto de Maputo. Mas, até ao momento, com nome e com rosto, existe apenas o motorista que transportou o contentor até um bairro da periferia. Contratado, horas antes, na praça onde se perfilam viaturas de aluguer. Quem enviou e quem recebeu o contentor, os nomes do remetente e do receptor, ninguém sabe. Ou, se sabe, ninguém quer dizer. O que se sabe, é que quem contratou o motorista teve tempo para fugir. Quando o contentor começava a ser descarregado. Deixando abandonada, também, a viatura em que se fazia transportar. Terminada a história, as Alfândegas dizem ter cumprido a sua missão. Que daqui por diante, o assunto é com a Polícia. A Polícia, diz que nada diz. O que, à partida, significar que a história se repete. Que, mais ou menos detalhe, a história pode vir a repetir-se.


É, a todos os títulos, compreensível que a Polícia não pode divulgar aquilo que não sabe. Ou, não tem a certeza de saber. Como é aceitável que evite divulgar qualquer informação que possa vir a comprometer o trabalho de investigação. Mas, convenhamos, há limites para tudo. Até para o sigilo da investigação. É que o sigilo ou o segredo, quando levados ao extremo, podem levar à falta de transparência na investigação. Como podem ser sua consequência directa. Dizer, informar, simplesmente, que o assunto está a ser investigado, é o mesmo que dizer nada. Ou a justificação por não ter feito nada. Pior ainda, pode ser uma forma, primária, para tentar esconder o que já se conhece e deseja que não seja do domínio público. Invariavelmente, a falta de informação correcta, a falta do relato de factos verdadeiros, conduz à especulação. Conduz ao boato e leva à intriga, cria a suspeição a suspeita. Ora, neste caso concreto, no caso da apreensão, esta semana, de uma tonelada de droga, não revelar o nome do destinatário ou do intermediário significa, no mínimo falta de transparência. Mais, e sem entrar no campo da especulação, pode haver quem entenda esta atitude como de encobrimento de nomes. De protecção a traficantes, mesmo que involuntária. Há que reter, sobretudo, que depois dos espaços informativos que o assunto mereceu, não é possível ficar calado. Ou, pior, prestar informações evasivas.