sábado, maio 27, 2006

Publicado em Mpauto, Moçambique no Jornal Domingo de Maio 21, 2006

antes e depois

Luís David


no fundo da gaveta do esquecimento


Coloquemos a questão, façamos a pergunta: Acaso alguém sabe quantas toneladas de drogas pesadas já foram apreendidas neste país? Digamos, por exemplo, nos últimos dez anos. Muito provavelmente, a resposta será evasiva. Se não, mesmo, negativa. Mas, também poderemos questionar quantas toneladas dessas drogas apreendidas foram, efectivamente, destruídas. Também aqui, muito provavelmente, não teremos uma resposta concreta, uma resposta única, uma resposta oficial. De resto – e isso todos o sabemos – a droga não foi produzida para ser destruída. Foi produzida e corre mundo para ser consumida. Por quem dela depende. Interessante, curioso, é saber que várias toneladas de droga aprendidas em Inhambane, há alguns anos, ainda aguardam por oportunidade pare serem destruídas. E que foi necessária uma visita de trabalho do Presidente do Tribunal Supremo àquela província, para se decidir a sua transferência para Maputo. Por falta de condições locais para a destruição. Aceitemos que sim. Mas, concordemos, dois/três anos é muito tempo, é uma longa espera. Tempo demasiado para criar a tentação do desvio. O apetite do negócio por conta própria.


Passa mais de uma semana que foi noticiada a apreensão de uma tonelada de haxixe, na cidade de Maputo. Apreensão efectuada de forma algo bizarra, algo estranha, segundo os relatos da época. Acontece, os dias continuam a passar calmos. O tempo corre sereno. Nomes dos traficantes, continuamos a não ter o direito de saber. Resultados das investigações já efectuadas, nada. Só há segredo. A única coisa que há, é segredo. Um segredo misterioso. Como misterioso terá sido o desaparecimento do suposto proprietário da droga. Em pleno dia, no populoso Bairro do Aeroporto. Um desaparecimento que, certamente, perante o olhar mais atento de quantos lhe estavam próximo, só terá sido possível por artes mágicas. Ou se assim convier, com o apoio ou os favores de algum deus menor. A história recente do crime organizado, em Moçambique, já nos mostrou como se pode invocar a protecção divida, ou a inspiração numa divindade, como alibi para a fuga de uma cadeia. Mas, deixando para além a fuga do suposto proprietário, hoje parece não se saber se a droga ainda está ou não no armazém onde foi descarregada. Ao certo, ninguém confirma, ninguém arrisca em dizer que sim. Mas, também ninguém desmente, ninguém diz que não. Aparentemente, parece haver um mal disfarçado interesse para arrumar o assunto na gaveta do esquecimento. Lá bem no fundo da gaveta do esquecimento.