domingo, outubro 21, 2007

continua a chateação

O livro tem como título “O Português Que Nos Pariu”. A autora dá pelo nome de Angela Dutra de Menezes. O que, sem dificuldade, dá para intuir ser brasileira. E o é, de facto. Aliás, dúvidas não existem quando, em subtítulo, escreve: “Uma visão brasileira sobre a história dos portugueses”. Ainda antes de tomar contacto com o livro, quando o vi referenciado na internet, logo disse: Bem feito. Bem feito que tenham escrito este livro. Bem feito que alguém tenha escrito uma história ao contrário. Seja, do lado contrário, O que, bem entendido, nada tem a ver com contra-história. E depois, como se tanto não tivesse sido já ousadia, tem mais. A capa é ocupada com uma imagem que se prende da figura do infante dom Henrique. Em posição normal. A contracapa reproduz a mesma imagem. Mas, invertida. Bem sei, acredito, é normal que as quase 190 páginas de prosa possam cair mal a meia dúzia. De outra forma, houvesse o livro sido escrito por moçambicano e teríamos contestação dos de fora. Dos que dizem terem vindo para nos ajudar. Que, no seu dizer, vieram dar o seu valioso contributo ao desenvolvimento deste país. Mas não, o livro foi escrito no Brasil. E, ao que parece, na cabeça, nas mentes sábias e altruístas de uns tantos, o que nos torna diferentes do Brasil é o facto de ainda não termos o mesmo estatuto do Brasil. De nos assumirem, simplesmente, como ex-colónia.



Não resisto a transcrever uns poucos parágrafos de “O Português Que Nos Pariu”, como forma de se começar a conhecer o pensamento da autora. E perceber o a que me refiro. Então, o livro começa assim (Pag. 13): No século XVI, nenhum colonizador invadiu nenhuma praia com posse e porte de ONG. Nem podia, claro – cada época, cada sina. [ ] Hoje, convivemos com os “politicamente corrector”. Na minha opinião, tentativa perigosa de nos recolonizar. [ ] Não gosto dos “politicamente correctos”, também não gosto de ONGs. Não gosto de nada pronto. Quero o prazer e o luxo de poder pensar sozinha. Se é para ser colonizada, que seja como já fomos – ao menos sabíamos quem era quem. [ ] Sabendo, nos conhecemos. Por isso fiz este livro. E, a autora continua com referências a Alcácer Quibir e aos mouros e avança com a “Receita do Português”, para concluir que o Brasil é um país de cristãos-novos, ou judeus, convertidos à força. Os famosos degredados na maior parte das vezes eram judeus se escondendo, tentando sobreviver sem abdicar da fé. E, depois de muita história de degola, de intervenção do Vaticano, de fogueira e de guerra santa contra os infiéis, a autora oferece-nos esta prosa: Em Elvas repetiu-se o drama. A fama de na cidade viveram as mouras mais belas da península, teve alto preço. Os cristão degolaram todos os homens, violaram as mulheres, não deixaram pedra sobre pedra. Elvas marca o momento em que as tropas portuguesas já não paravam para pensar. Destruíam e seguiam em frente para cortar mais gargantas. [ ] Nesta confusão generalizada – nos intervalos, cristãos e muçulmanos estapeavam seus pares -, os cavaleiros lusos acabaram por encurralar o inimigo no Algarve. As guerras de reconquista terminaram. Em 1249, o último mouro atirou-se no Mediterrâneo disposto a morrer afogado para se livrar dos portugueses. Já não aguentava mais tanta chateação. Como todos sabemos, o Mediterrâneo fica lá e mouros por aqui não há. Mais de sete séculos e meio após o episódio, agora pelas bandas do Índico, continua a chateação.