domingo, novembro 25, 2007

uma aliança espúria

É Moçambique um país de muitas e de múltiplas carências. Daí o recurso ao donativo e à oferta externa para tentar reduzir a diferença entre o que possuímos e entre o que necessitamos. Por vezes, e também, à solidariedade interna. Como aconteceu, recentemente, aquando das explosões do Paiol de Maputo. Naturalmente, perante estas e outras situações reais, como diz o ditado, “quem dá o que pode a mais não é obrigado”. Até aqui, parece estarmos de acordo. Mas, dar o que se pode, dar o que se pode dar, nem sempre significa dar o que pode ser útil e necessário a quem recebe. Ora, parece ter sido o que aconteceu com o recente donativo da Câmara do Porto (Portugal) à Cidade da Beira. É que entre os diversos artigos da oferta, constava uma camião para a recolha do lixo. Mas, um camião já cansado para não dizer velho. Tinha 25 anos de uso, de utilização. E, aqui, cabe perguntar para que serve um camião com 25 anos de uso. Certamente, para nada. Ou, em última hipótese para criar novos problemas ou para ser vendido para a sucata. Ora, se assim pensou o Presidente do Conselho Municipal da Beira, cidade a quem se destinava a oferta, pensou bem. Nem poderia ter pensado melhor. E, se pensou bem, melhor agiu. Ao recusar receber a oferta. Em último lugar, poderá ter criado um facto político. Nada mais do que isso. A não ser o de ter contribuído para o anedotário tuga.


Muito já foi dito e escrito sobre as cadeias nacionais. Na generalidade, em defesa dos reclusos e das más condições prisionais. Em outros casos, sobre a ilegalidade de muitos dos detidos. E, parece bom, parece positiva esta tomada de posição, esta tomada de consciência. Sobre a necessidade de mudar, sobre a necessidade de alterar o que mal está. Fica a dúvida se tal, se tal posicionamento, encontra confirmação prática. É que, recentemente, surgiu um fenómeno novo e curioso. Estamos a referir o facto de se levar equipas de futebol federado para disputar jogos de futebol com reclusos no interior da B.O. O que, em si, até pode ser bom e positivo. Para alguns reclusos. Mas o que já parece menos bom, é que estes jogos de futebol estejam a ter uma cobertura jornalística que, em nada justificam. Mais, que até pode ser condenável. Em termos de Ética. E é. Não se percebe, muito menos se entende, como algumas equipas prestigiadas se prestam a este tipo de jogos. A estas futeboladas. Como não se percebe como, a coberto destes jogos, condenados a pena maior apareçam como vedetas em páginas de muito jornal da praça. Com direito a entrevista. Acompanhada de foto. Para dizerem e, vejam só, para elogiarem a forma como são tratados na prisão. De facto, algumas equipas do futebol estão no bom caminho. Estão a contribuir para que, condenados em Tribunal, manifestem a sua opinião, sobre as condições do cárcere. E, mais, sobre a justiça da pena que lhes foi aplicada. Que a nossa Justiça é deficiente, é público e assumido. Que o futebol nacional não passa de medíocre, não vê quem não quer ver. Agora, esta aliança entre sistema prisional e equipas de futebol, é uma aliança estranha. E não é normal. Digamos, trata-se de uma aliança espúria.