domingo, julho 13, 2008

Uma língua de combate e uma língua de ruptura

Tem vindo a alimentar alguma polémica. Digamos que esquentados monólogos, cá entre nós, o futuro Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Hei de afirmar que, desde o início, desde o princípio da discussão sempre fui contra o dito. Ou, o maldito cujo. Este posicionamento manifestei, passam muitos anos, pessoalmente, a Luís Filipe Pereira. Primeiro negociador, primeiro negociante, moçambicano, do desditoso. Ou, do malditoso. Aquando, depois do seu regresso, logo após haver retornado da pátria do “Tira Dentes”. Onde, algures, tiveram lugar as primeiras conversações. Ou, talvez e por melhor dizer, as primárias negociações para unificar a ortografia da língua que todos nós falamos. E, escrevemos. Uns bem, outros mal. Outros, nem bem nem mal. Talvez a maioria. Dizer aqui, sem receio de desmentido, que uma língua pode ser língua de unidade nacional. No interior de um país. Onde está em processo a construção de uma nação. Mas que uma língua não é, nunca foi e, por hipótese, alguma vez haverá de ser instrumento de unidade entre países separados pela geografia. Distante no espaço, dispersos pelos continentes. Por tudo quanto é continente.


Em termos de presente, terei de dizer, com toda a humildade, que mudei de ideia. De ideias. De opinião. Depois de ter lido na última edição do “Magazine” o texto com o título “Este combate não é nosso”, concordei. E, disse de mim para mim, possivelmente lavrando em erro, que se o combate não é nosso estaremos perante um vitória sem adversário. Porque, ao que se sabe, não houve reunião ou seminário, restrito ou alargado, sobre o dito, talvez maldito, Acordo. Para discutir, abertamente, as diferentes vertentes do famigerado Acordo. O que têm de positivo. O que têm de negativo. Provavelmente, serão até nenhumas. Muito provavelmente, e é aqui que parece residir o ridículo de toda a questão, a partir de determinada data os computadores deixarão de nos fornecer dois correctores de textos. Deixará de haver sistemas de correcção para português do Brasil e para o português de Portugal. Haverá, apenas um versão. O que para quem escreve, para quem apenas escreve, tem inconveniente nenhum. Mas, convenhamos, nivelar por baixo, é nivelar pelo medíocre. O Acordo, em si, nem é bom nem é mau. É pior. Não contém genes de unidade nem de unicidade. E aponta para a necessidade de uma ruptura, definitiva, da linguística e da linguagem dos povos de países que pretendem afirmar-se. Que pretendem construir nações. No contexto das lutas contra a opressão colonial, a língua portuguesa foi definida como língua de combate e de unidade nacional. Assim deve continuar a ser. Para além dos acordos espúrios que por aí se anunciam, a língua portuguesa deve continuar a ser língua de combate. Uma língua de combate e a língua de ruptura.