domingo, setembro 21, 2008

a lógica do poder do soberano

Em edições da semana passada, pelo menos dois semanários dedicaram largos espaços ao tráfico. De pessoas e de drogas. Trata-se, como se sabe, de negócios milionários. Que datam de há muitos anos. Que têm raízes no tempo. E, da forma que questionam o que questionam, os semanários também podiam questionar mais. Podiam questionar, por exemplo, sobre o negócio do urânio enriquecido. Como podiam, também e noutra eventualidade, interrogar sobre a venda de motores de aviões e de helicópteros soviéticos. E, isto, apenas para sublinhar que o nosso país pode ser uma plataforma, uma placa giratória de negócios ilegais muito mais ampla do que aquilo que parece ser. Em relação aos dois textos dos dois semanários, uma coisa parece clara. Ambos apresentam dados, números, nomes de traficados e de possíveis traficantes. Ambos constituem um libelo acusatório. Pior. Ambos os textos, ambos os trabalhos jornalísticos, ao que se lê, terão sido elaborados, pelo menos em parte, com base em informações fornecidas pela investigação policial. Com base em dados fornecidos por quem o dever de investigar. E, de prevenir e de punir o crime organizado. Através de um trabalho profundo.


Possa ou não parecer repetitivo, é importante voltar a reflectir. Os negócios de seres humanos e de drogas podem colocar em questão a segurança do Estado. E, isto é apenas uma repetição do escrito em anterior. Por muito que possa parecer maldade, talvez seja apenas desconhecimento. A questão, a verdadeira questão, a questão de fundo, é que o Estado não está a fazer nada para se defender. Para se proteger das investidas das mafias do crime organizado. O nosso Estado parece estar a ficar cada dia mais frágil. Por vontade própria. Ou por vontades pessoais de alguns dos seus agentes. Para depois, por fim, nos virem dizer que de nada sabiam. Só que as coisas não são assim. Nunca foram assim. Possivelmente, nunca virão a ser assim. A segurança do Estado não é uma questão de nacionalidade. Nem de cueca. A segurança do Estado não assenta, unicamente, na Lei. O conceito ultrapassa a Lei. Vai para depois de Lei. Em termos práticos, necessita de legitimidade. Assenta na necessidade de uma lógica que possa dar legitimidade à Lei. E, essa lógica, só pode ser a lógica do poder do soberano.